Bernard-Henry-Levy (BHL), esteve em Lisboa e Pedro Mexia aproveitou para uma interessante conversa, em que BHL falou do seu mais recente livro “Este Vírus que nos Enlouquece”. A monografia é um ensaio sobre os estranhos tempos que vivemos e à maneira errada como estamos a enfrentar a Pandemia.
Felizmente que existem espíritos livres para lutar contra os bem pensantes que seguimos cegamente e imitamos sem discernimento. BHL leva-nos ao essencial deste período de confusão, mostrando-se sempre vigilante contra qualquer forma de totalitarismo, e alerta para a necessidade de nos desenvencilhar-mo-nos da ignorância e dos espíritos médico-político-mediáticos que nos matracam há meses.
Destaquei as seguintes reflexões:
Sobre o discurso acerca do vírus: “…uso aquela fórmula do grande anatom-patologista Rudolf Virchow que disse que o vírus é um fenómeno social que comporta alguns aspectos sanitários”
Uso do temo “guerra”: “…detrás de um vírus não há uma vontade, não há uma estratégia nem um exército. E como para mim o grande erro face a esta pandemia foi justamente o de emprestar ao vírus uma intenção. Uma vontade, como se ele estivesse a dar-nos uma mensagem, um aviso, julgo que o que está na raiz de todas esses erros é ver o vírus como um inimigo. O discurso da guerra, como dizia André Glucksmann, é particularmente “mal vindo”.
Sobre o medo: “Eu não crítico o medo. Constato-o. Constato também que contrariamente à ansiedade, para falar de forma freudiana, que é um alarme e que ajuda a agir, o medo é paralisante., impede a acção. É normal ter medo desta doença? É. Mas não mais do que outras doenças mortais. O vírus é mortal em poucos casos, menos do que outros vírus, menos do que doenças terríveis e incuráveis como o cancro. Portanto, o medo foi excessivo, havia uma parte desse medo irracional, insensata. E o medo irracional chama-se pânico, cujos efeitos sociais não são bons,”
“ A democracia é o desfazer do distanciamento social. O trabalho tem aspectos negativos, mas também tem aspectos bons, é assim que nasce a fraternidade, o sentido do que é comum. O trabalho à distância é a solidão, o tédio, a mistura do privado com o público, a ideia de que não há esfera privada fora do imperativo produtivo, é o produtivismo, é a espionagem electrónica dos empregados pelos patrões. Eu acredito muito na escola, na sala de aula. É importante porque contribui para a igualdade, para que as crianças que não vivem num meio privilegiado escapem um pouco ao infortúnio. A generalização do home schooling não vai no bom sentido. Não é preciso ser um grande freudiano ou lacaniano para saber que o meio mais patogénico que há é o meio familiar. A família é uma árvore de felicidade mas é também um ninho de neuroses. Os portugueses ou franceses de amanhã que forem educados em home schooling vão sofrer de uma epidemia de neuroses, da falta de hábitos sociais, de uma falta de imunidade ao mundo verdadeiramente preocupante. A escola tem o grande mérito de ser uma fábrica de defesas imunitárias face a vírus como a guerra de todos contra todos, a competição, a concorrência. Esta explosão do número de crianças a estudar em casa vai lança-las depois no mundo verdadeiro que não é um mundo asséptico. E estarão desarmadas. Tudo isso, o tele-trabalho, o tele-ensino…”