segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Os muros da vergonha



Há cinquenta quatro anos começou a construção do muro de Berlim. Quando foi abaixo em Novembro de 1989, a mensagem anunciava a chegada de um mundo novo, aberto e fraternal. Um mundo onde as pessoas podiam circular livremente, finalmente desembaraçadas do espírito da guerra fria. Resultado: Nunca houve tantos muros no Mundo. 

Em 1989, existiam cerca de uma dezena. Hoje são cerca de cinquenta, e mais de 8 000km de muros construídos em 25 anos. Há os mais antigos em fronteiras que parecem intransponíveis como o das duas Coreias, ou entre a Índia e o Bangladesh. Há o mais célebre, que permite a Israel, amputar uma grande parte dos territórios que pertencem de direito a um Estado Palestiniano, transformado em confetti. Há o mais europeu, em Chipre, onde a Turquia cuida do seu quintal. Há o mais recente, na Hungria (ainda na Europa), iniciativa de um governo que não encontrou melhor solução para conter os movimentos migratórios provenientes da vizinha Sérvia. Há o mais arenoso, em construção entre a Tunísia e a Líbia, para proteger a jovem democracia de ataques jihadistas. Há o mais improvável que a Ucrânia queria construir para se proteger do inimigo Russo. Há o mais louco, proposto por Donald Trump, candidato americano nas primárias do partido republicano, entre o México e os Estados Unidos, não obstante já existir um, desde o Golfo do México ao oceano Pacífico.

Em suma, a cortina de ferro new-look, tornou-se o must das relações internacionais. O fim da guerra fria, não desembocou no Éden anunciado pelos espíritos mais ingénuos ou líricos. Conflitos políticos não resolvidos, guerras, problemas étnicos, a ascensão do jihadismo, resultaram num planeta onde se erguem barreiras inéditas de resultados incertos. 


Quanto à mundialização desinibida e desregulada, que deveria conduzir a um mundo sem fronteiras, ela resume-se à constatação assinada por Régis Debray: “Os ricos vão onde querem nas asas; os pobres vão onde podem, remando” . Às vezes mesmo afogando-se.

2 comentários:

  1. Parabéns pela crônica, tens toda a razão. Não será mesmo nada fácil para os nossos filhos e netos.

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    1. João, o meu filho emigrou para a República Checa, já que por aqui não encontrava trabalho, ou melhor, não obstante a existência de postos de trabalho em áreas para as quais não foi preparado, precários e mal pagos. Ele vê com preocupação estas iniciativas que podem ser o início do levantamento de barreiras à livre circulação, mesmo dentro da UE. Tenho esperança que apareçam políticos com mais cabeça, capazes de encontrar as soluções para um caminho de prosperidade onde todos possam contribuir, independentemente da sua origem.

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