sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Angela Merkel e princípios humanísticos.


Abundam, no seu país e em toda a Europa, críticos de Angel Merkel. Certo é que muito é muito, e que devemos colocar, agora, limites ao humanismo. Mas vamos ser honestos: só se pode admirar a coragem que ela teve, assim como o povo alemão, no início da chegada de dezenas de milhares de sírios e outros refugiados. Angela Merkel e os alemães fizeram prova de sangue frio e de uma notável organização, indo ao ponto de transmitir cursos de alemão por telemóvel, para aqueles que caminhavam durante dias para chegar à terra prometida ... Esses refugiados, também se podem admirar, nós que os vemos do nosso sofá,  esperar horas ou dias na lama ... Um pouco de humildade da nossa parte não faz mal. Ouvir os seus testemunhos leva-nos de volta ao essencial: a liberdade, o respeito pelos outros, a solidariedade.

Angela Merkel, filha de um pastor luterano, deu-nos uma lição de moral, uma coisa que não gostamos, mesmo que a maioria dos empresários alemães estejam satisfeitos com esta mão-de-obra. Podemos dizer que os alemães têm "experiência" na integração de povos em busca de uma vida melhor. No final da Segunda Guerra Mundial, tiveram que acomodar 15 milhões de refugiados do leste da Alemanha (Prússia Oriental, Pomerania, Silesia, e Checoslováquia). 

Isto foi feito em silêncio, já que profundamente culpabilizados  pelos horrores cometidos. Cada família foi obrigada a acomodar muita daquela gente, que posteriormente emigrou para os Estados Unidos e outros lugares. 

A "revolução das velas", iniciada principalmente por igrejas luteranas da ex-RDA, ajudou à queda do Muro de Berlim, em 1989. O chanceler Helmut Kohl, em seguida, fez todos os esforços para a reunificação do povo alemão. Reunificação e integração bem sucedida, não obstante ainda existirem no leste algumas bolsas de pobreza. 

Os alemães têm, também, experiência adquirida com seus trabalhadores turcos que falam alemão e turco e não têm a mesma cultura religiosa. No seu conjunto, uma maioria, em grande parte em regime de voluntariado, está empenhada em que a integração destes emigrantes seja uma realidade, respeitando esta nova identidade desconhecida, organizando por todo lado, cursos de alemão para que o diálogo e a integração sejam rapidamente possíveis. No longo prazo, terão por certo ter sucesso, não tendo provavelmente a relutância em lhes dar direitos políticos, como têm feito com os do Leste e turcos. 

No caos  actual da guerra (Síria, Líbia, Iraque e Afeganistão) e suas conseqüências: destruição e pobreza, é certo que teremos mais refugiados muçulmanos na Europa. Temos muito a fazer para nos preparamos por todo lado na Europa ( a Alemanha vai à frente): construindo pontes entre as duas culturas, aprendendo mais sobre os muçulmanos e aprofundando os nossos próprios valores humanistas, cristãos e laicos. Diria que é pôr em causa as nossas crenças (se tivermos ...), uma releitura do nosso passado, do que somos hoje, e a visão do que queremos ser. O escritor e filósofo muçulmano Abdennour Bidar (ameaçado de morte), diz que a pior das ameaças é o vazio espiritual. 

Estas linhas foram escritas depois dos atentados de Paris e do Mali, para que não nos esqueçamos de todos aqueles seres humanos que fogem do caos à procura de segurança e de viver em paz.

Sem comentários:

Enviar um comentário