Pode muito bem ser que o nuclear venha dar resposta aos problemas energéticos do planeta. Existe neste momento uma corrente pró-nuclear alimentada por dezenas de startups pelo mundo fora. Da fundação Bill Gates aos grupos de investigação do MIT, o “Nuclear low-carbon" ganha progressivamente um lugar ao sol.
Limitar as emissões de carbono e, por consequência, fazer baixar a temperatura média do planeta em 1,5 ° C até 2024, são as duas principais ambições nos acordos assinados em Paris na sequência da COP 2. Num momento em que as energias renováveis representam agora, a nossa principal esperança de um dia conhecer um ambiente mais saudável, surgem dúvidas: São estas fontes renováveis capazes de atender às nossas necessidades de crescimento? E se a solução para a crise energia e a crise climática, for o nuclear? É a nesta última pergunta que investigadores e startups estão apostando, nos últimos anos, em dar resposta.
Desde que Bill Gates, anunciou investir fortemente através de sua firma TerraPower, o sector conhece agora uma dinâmica só vista no início da exploração das centrais nucleares. A energia nuclear de que se fala, está desligada das aplicações militares é menos perigosa para o ser humano e para a natureza. Firmemente convencido que nos pode permitir continuar a produzir a energia que o planeta precisa sem o destruir, o fundador da Microsoft quer "privatizar" o sector com o objectivo de o libertar da sua associação político-militar.
Bill Gates, em 2010, dando um Ted Talk sobre o futuro do nuclear.
De acordo com os últimos dados publicados pelo (Agência Internacional de Energia) IEA em 2013, a produção de energia tem origem, principalmente, na queima de combustíveis fósseis (68%), nas energias de baixo carbono 32%, e 11% da energia nuclear. A ideia seria a de inverter esta tendência. Parece que estamos a assistir a uma espécie de revolução coperniciana da energia nuclear, até agora dominada por grupos poderosos ligados ao fabrico de armamento e hostis ao desenvolvimento tecnológico.
Dois jovens do MIT usaram o "Founders Fund", uma empresa conhecida para apoiar os mais ambiciosos projectos da nossa era, como o Facebook e o Airbnb, entre outros, e criaram a Transatomic Power em 2011, uma start-up, cuja ideia é usar um diferente processo de produção. Actualmente os reactores funcionam por fissão a "água pressurizada" com urânio 235. O que propõem Mark Massie e Leslie Dewan é retomar um antigo processo (1960), com base num reactor a sais fundidos (molten salt), cujos resíduos são utilizados como fonte de energia.
Maquete da Central Nuclear Transatomic Power
A liderança de Mark e Leslie neste novo sector valeu-lhes a participação em reuniões no Congresso dos EUA e inspirar muitos investigadores. Os EUA tornou-se o centro de toda a emoção associada a estas novas proezas tecnológicas. Longe de seu passado bélico da Guerra Fria, onde era o impedimento final, o nuclear adopta pouco a pouco uma imagem mais pacífica. Ray Rothrock, um dos maiores investidores no sector da energia, conta já com 55 start-ups activas na criação de uma alternativa ecológica através da energia nuclear nos Estados Unidos.
Os nomes mais sonantes de Silicon Valley estão também envolvidos muito a sério nesta corrida para o reactor de verde. Sam Altman, CEO do acelerador de startups, Y Combinator, entrou para a equipa de duas jovens empresas.
A Helion Energy está a desenvolver protótipos de reactores de fusão (Fusion Engines). Fusão é o que alimenta o Sol que, por sua vez, cria quase toda a energia que recolhemos de outras maneiras. Outras energias renováveis, como a eólica e a solar, indiretamente aproveitam a energia de fusão do sol. Este mesmo processo pode ser usado na Terra para gerar energia limpa, sem as perdas de transmissão ou imprevisibilidade da energia solar, além de ser ambientalmente amigável. A UPower desenvolve a sua actividade na fissão, com o seu gerador atómico à escala do megawatt “always-on” isento de emissões.
No seio da TerraPower, Bill Gates, conta desenvolver uma tecnologia na fissão nuclear, cujos os resíduos também são usados como fonte de energia. Ele está actualmente a construir dois reactores na China. Um irá servir como um protótipo para outro de maior potência. Estes reactores podem ser altamente eficazes em áreas onde as redes eléctricos estão ainda pouco desenvolvias, como é o caso na Ásia.
Leslie Dewan et Mark Massie, fundadores da Transatomic Power.
Alex Cory, co-fundador da HackingEDU com Sam Altman, presidente da Y Combinator.
A corrente para este novo nicho de investigação e desenvolvimento é real, o caminho é no entanto longo até chegarmos a soluções industriais fiáveis. Vários obstáculos estão à vista. Em primeiro lugar vem o da segurança, particularmente nos Estados Unidos, onde o progresso do sector nuclear está sistematicamente sujeito à aprovação de uma comissão, fortemente ligada ao lobby militar. Outro é a opinião pública. Falar do nuclear como uma solução para o problema ambiental é de alguma forma curar o mal com o mal, uma ideia que traduz o sentimento geral em plena celebração de 30 anos de Chernobyl, e com o drama de Fukushima ainda muito presente em todas as mentes. No entanto, como a energia renovável não será capaz de cobrir as necessidades energéticas do planeta, a exploração de um nuclear limpo impõe-se como uma evidência.
Sem comentários:
Enviar um comentário