quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O drama dos fluxos migratórios - II


Os acontecimentos marcantes destas duas últimas semanas despertaram as pessoas na Europa, mesmo aquelas que não se preocupam com estas questões no seu dia a dia, para um processo que já vinha a decorrer há mais de um ano: A descoberta de 74 pessoas sufocadas num caminhão numa estrada na Áustria, abandonado por traficantes sem escrúpulos, seguida da imagem trágica de um menino sem vida numa praia na Turquia, e as imagens dos requerentes de asilo que chegaram à Hungria, caminhando em direção à fronteira com a Áustria. 

A grande maioria dos europeus reconhece hoje que há um problema às portas da Europa e da necessidade de ajudar essas pessoas que chegam em massa. Mas como? O gesto generoso da Alemanha e da Áustria de os aceitar nos seus territórios, foi recebido com alívio depois de termos visto a sua viagem quase em directo na televisão. Mas este recente acto de generosidade destes dois países não encorajará os contrabandistas a exigir mais dinheiro às pessoas desesperadas nos países pobres para que eles emigrem   ilegalmente para a Europa?

Importa, portanto chegar a um acordo sobre a mensagem que queremos dar ao mundo sobre a vontade - ou falta dela - para acolher na Europa estes emigrantes que chegam em massa.

Para isso, será necessário distinguir entre o direito ao asilo e admissão de migrantes que vêm para a Europa para encontrar um melhor futuro económico.

O asilo político dá-se a um refugiado que foge da perseguição, quer seja por motivos políticos, étnicos ou religiosos, ou ainda porque essas pessoas vêm de zonas de conflito, onde as suas vidas estão em perigo. Podemos pensar nos Sírios, nos Yazidis, os cristãos do Oriente ou ainda em alguns muçulmanos que se encontram do lado errado do poder nos seus países. Esta forma de emigração justifica um pedido de asilo, que é deve ser concedido se estamos convencidos de que eles arriscam suas vidas se regressarem às suas casas.

A emigração económica é resultado do desespero de grande número de jovens, frequentemente educados em África e noutras regiões onde encontramos países em desenvolvimento. Nessas regiões, a aventura da emigração, incluindo os seus riscos, parece melhor do que estar em casa sem trabalho, com salários de miséria e sem qualquer esperança de uma vida melhor.

O que seria de grande parte dos nossos jovens que emigraram nos últimos anos se existissem fronteiras na Europa e restrições à entrada de gente vinda de fora?

Na grande massa de pessoas que chegam às portas da Europa, temos uma mistura de ambos os tipos. A Europa deveria comunicar melhor a sua política de admissão nos meios de comunicação dos países de origem dos migrantes. Admitir requerentes de asilo é uma nobre tradição na Europa que honra o continente. Absorver os emigrantes económicos deveria feito de uma forma mais sistematizado e selectiva, provavelmente, como acontece com a política de migração económica nos Estados Unidos, Canadá ou Austrália.

Também a Europa deveria utilizar melhor o seu soft power diplomático e económico para encorajar os governos desses países a promover um melhor ambiente empresarial para que os jovens possam encontrar trabalho e um futuro económico no seu próprio país. Afinal de contas as pessoas tendo oportunidades iguais ou melhores perto de casa, porquê arriscar no desconhecido, excepto aqueles que querem conhecer o mundo, e estes são uma minoria.

Se todos pagam, em média, entre 10.000 e 20.000 euros aos contrabandistas para vir para a Europa, não seria melhor abrir com a mesma soma, uma pequena oficina, ou iniciar um negócio, permitindo a essas pessoas trabalhar por sua conta no seu país de origem sem o risco de perder a sua vida numa perigosa jornada? 

Não deveríamos antes ajudar, através de programas de assistência técnica e ajuda ao desenvolvimento, os países para que este desenvolvam as suas economias e promovam um sadio ambiente económico que permita promover os negócios para que os jovens, uma vez formados, tenham esperança em encontrar um futuro estável e seguro, encorajando-os a continuar a servir sua própria sociedade?

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