Hoje o suplemento do Jornal o Público trás como título “Devemos comer o que andamos a comer?”. Dois dos artigos “O Leite já não é uma vaca sagrada” e “Vamos declarar guerra ao Glúten” podem induzir alterações desnecessárias nos nossos padrões de consumo. Explico-me: no artigo sobre o leite, nutricionistas afirmam que este alimento é dispensável. As situações reportadas como negativas, estão associadas ao consumo exagerado de leite (2 a 3 copos de leite por dia). Como disse Philipps Paracelsus “Poison is in everything, and no thing is without poison. The dosage makes it either a poison or a remedy”. Quanto ao Glúten, o suplemento traduz um artigo do New Yorker muito mais bem fundamentado. Os que gostam de comer pasta podem estar descansados, já que apenas um por cento da população não pode comer esta proteína que se encontra nos grãos de trigo, cevada e centeio.
Segundo a Fortune o mercado dos produtos sem gluten nos EUA vale $8.8 bilhões, e 22% da população consome regularmente. Intrigante já que 99% das pessoas não têm problemas com a ingestão de Glúten.
Cada ida ao supermercado nos dias de hoje obriga-nos a navegar no que se tornou uma paisagem de comida traiçoeira. O que quer dizer "agora com fibra”? “Isento de glúten” num pacote de batata frita? “Menos 35% de gordura”? “O sabor doce que você deseja, agora com fibra”? Que se deve chamar a isto: progresso? Será que é mesmo comida?. Na outra extremidade do espectro nutricional, como é que vamos processar (muito menos digerir) a nova, exuberantemente calórica sanduíche Double Down que a KFC introduziu? Essa exaltação sem vergonha da gordura, redefine o próprio conceito de um sanduíche, substituindo o obrigatório pão por duas camadas de frango, tiras de bacon, dois tipos de queijo e uma dose de molho.
Decidir o que comer, ou mais realisticamente decidir o que se qualifica como alimento, não é fácil mum ambiente como este. Ao mesmo tempo que a KFC lança a sua nova bomba calórica, as alegações de saúde, na maioria dos casos duvidosas, proliferam. Existe uma tendência cada vez maior de colocar no mercado alimentos com fins terapêuticos, É o caso da redução do colesterol através do consumo de um tipo de margarina ou iogurte. As fibras que previnem o cancro, os produtos que reforçam o sistema imunitário, etc.
Se não podemos confiar, nas autoridades que regulam e vigiam os produtos alimentares ou até mesmo nos nutricionistas e nos profissionais do marketing para nos guiar através dos bosques dos supermercados, então com quem podemos contar? A pergunta é : Como é que os seres humanos conseguem escolher alimentos que os mantenham saudáveis no meio da amalgama de especialistas em nutrição, pirâmides alimentares e cereais de pequeno almoço que prometem aumentar a concentração das nossas crianças e da existência de restaurante com doses maiores que as nossas cabeças?
Contamos com a cultura, que é outra maneira de dizer: a sabedoria acumulada da tribo. (Que é em si uma outra maneira de dizer: a avó, a mãe e os nossos amigos.) Todos nós levamos conosco regras de ouro sobre alimentação que foram passadas pelas nossas famílias ou arrancadas da cultura onde vivemos.
Tenho andando a recolher exemplos dessas regras da alimentação. A minha premissa é que, apesar de toda a ciência posta ao serviço da nutrição, a cultura ainda tem muito mais para nos ensinar sobre como escolher, preparar e comer alimentos, e que essa sabedoria popular é digna de preservação - talvez hoje mais do que nunca, nesta era da ciência dos alimentos deslumbrantes, porções supersize e confusão generalizada na dietética.
O meu objectivo é recolher exemplos genuínos, verdadeiramente úteis, e nutricionalmente correctos da sabedoria popular. Algumas das regras têm resistido ao teste do tempo e foram confirmadas pela ciência, mas todas elas têm algo a nos ensinar sobre nossos esforços contínuos para escolher um caminho saudável e feliz através dos terrenos minados dos modernos supermercados ou dos menus dos restaurantes.
Depois de digerido este texto, resta-nos um de dois caminhos:
ResponderEliminar1- Fazer de cada ida ao supermercado um desafio, e ir munida de bloco de notas, calculadora , IPad , lupa ( para ler a composição de cada produto) e uma grande dose de tempo disponível e de paciência ;
2- Seguir a nossa dieta de infância, e comprar de tudo e comer de tudo, porque como cita o autor do texto, " não há venenos há doses..." e haja bom senso!
Quem se lembra do Genesis (a banda, não o Livro), ouviu "You are what you eat, eat well!" Lá no fundo, sabemos muito bem o que nos faz bem, assim como o que nos vai destruindo lentamente. Mas como em geral, o prazer imediato está mais relacionado com o que nos prejudica, seja no conteúdo, seja na qualidade, só nos resta exercitar a contenção, a resiliência, ou alguma penitência até... Talvez alguma alma genial venha a industrializar o chocolate à base de alfarroba e xarope de agave, com todo o sabor do chocolate de leite, sem calorias e propriedades terapêuticas ao nível articular. Será que o vamos apreciar da mesma forma?
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