Procuro reminiscências da minha infância. Natais, aniversários, férias grandes (assim se chamavam quando era menina, tão longas eram).
Tendo nascido na cidade, não guardo memórias de festejos, que não sejam circunscritos ao meu universo infantil, da casa de dois pisos onde sempre vivi, com jardim à volta, mas tudo num registo muito urbano. Dir-se-ia, ter nascido e vivido para ser uma menina da cidade, pouco identificada com vivências campestres, não tendo portanto festejos que me levassem às vindimas, colheitas, matanças de porco e por aí fora.
Apesar desta vivência muito citadina, recordo com saudade as férias de família que o meu pai organizava, sempre sob protesto, achando um luxo a despropósito um chefe de família roubar dias ao trabalho para descansar. A minha mãe, no entanto, batia o pé, levava sempre a água ao seu moinho e acabávamos sempre por partir. Já que íamos, pensava o meu pai, melhor que para destinos que valessem a pena.
Apesar desta vivência muito citadina, recordo com saudade as férias de família que o meu pai organizava, sempre sob protesto, achando um luxo a despropósito um chefe de família roubar dias ao trabalho para descansar. A minha mãe, no entanto, batia o pé, levava sempre a água ao seu moinho e acabávamos sempre por partir. Já que íamos, pensava o meu pai, melhor que para destinos que valessem a pena.
Invariavelmente, rumávamos ao norte, e deixávamos Lisboa para trás enfrentando a N1, já que , há uma vida atrás, auto-estradas e scuts era coisa de ficção científica.
O meu pai amava o Minho. Não tendo nascido por aqui, viveu a sua primeira infância numa aldeia próximo de Monção, e era vê-lo renascer cada vez que se aproximava destas terras.
Aprendi a amar o Minho com ele. Desde as paisagens verdejantes, ao cursos de água fresca que encontrávamos na beira da estrada, passando pelos piqueniques meticulosamente preparados pela minha mãe, tudo é saudade. E ele encontrava em cada curva da estrada, em cada pequena aldeia, motivos para celebrar.
Havia peregrinações obrigatórias - ir à capela da aldeia de Cortes, onde já não havia vestígios da família entretanto desaparecida, mas cheirava-se o rio Minho e viamo-mos ao espelho, no espelhado das suas águas.
O arroz de serrabulho em Ponte de Lima, as trutas de Paredes de Coura, as festas de senhora da Agonia em Viana do Castelo, o cheiro a maresia e água gelada, efeitos da brisa e do nevoeiro na praia de Moledo, faziam parte.
Nunca perdi este amor ao Minho, e é também por cá que me sinto em casa.
Há umas décadas atrás, quis a vida que viesse a fixar residência no Porto.Aproximei-me do Minho do meu pai, passei férias em casa alugada durante anos e apresentei o Minho aos membros da minha família, que com raízes na Beira, desconheciam estas paragens.
Apaixoná-mo-nos todos por estas paragens e embarcámos numa pequena grande aventura - construir aqui um refúgio, para passar as férias, os fins de semana, quem sabe viver, um dia que as obrigações profissionais deixassem de nos ocupar.
Esta vivência rural, desperta um sentimento de maior proximidade às coisas da terra. O ciclo das estações, passam a fazer-se porque as folhas amarelecem, caem e as árvores florescem. Há a época das favas, das cerejas, das castanhas, e por aí fora.A consciência das estações do ano forma-se com as coisas que importam.
Esta vivência rural, desperta um sentimento de maior proximidade às coisas da terra. O ciclo das estações, passam a fazer-se porque as folhas amarelecem, caem e as árvores florescem. Há a época das favas, das cerejas, das castanhas, e por aí fora.A consciência das estações do ano forma-se com as coisas que importam.
Ora pensem! Para quem vive na cidade, as estações do ano são marcadas por episódios do quotidiana como sejam, o começo dos anos escolares, as luzes e enfeites de Natal nas montras das lojas. Há a época em que se muda o guarda fato, em que se compram as botas quentinhas para o inverno e os fatos de banho para ir à praia. No limite dá-se conta que chegou a primavera porque aparecem as primeiras cerejas e o outono é anunciado pelos vendedores de castanhas.
O Minho não me desilude e não pára de me surpreender. Sobrevive, pese embora algumas "catástrofes arquitectónicas" como referia um amigo arquitecto e minhoto.
Recordo sempre a conversa tida numa ocasião, em círculo de amigos em que alguém com raízes no Douro me dizia: "Adoro o Douro, mas o Minho!... Se tivesse que os comparar diria que o Douro é masculino, e o Minho é o feminino que lhe faz a corte..."
Bendigo as vivências simples que os meus pais me proporcionaram, bendigo a paixão pelo Minho que consegui transmitir à minha família, e sei que os meus pais ficariam felizes se soubessem que a filha continua a fazer a corte ao Minho.
Eles estão cá, eu sei
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