Na semana passada era quase impossível seguir os acontecimentos relacionados com as negociações entre a Grécia e o Eurogrupo, tal era a velocidade com que surgiam notícias, muitas vezes contraditórias. Por incrível que pareça. não obstante a situação limite a que se chegou, é possível perceber a estratégia de cada um dos lados, considerando que o lado dos 18 é comandado pela Alemanha.
Será que Alex Tsipras é o condutor maluco da Europa? À primeira vista podemos pensar que sim. Oficialmente a Grécia está ainda num programa de ajustamento acordado com a Troika, e o seu sistema bancário depende do acesso à liquidez de urgência do BCE e a falta de pagamento das dívidas, em particular ao FMI, aproxima-se.
Nas últimas semanas o governo de Atenas e o seu ministro das Finanças adoptaram um estilo low profile, procurando arrancar concessões aos seus credores.
Mas o governo helénico alterou a sua estratégia na semana passada. Na Sexta-feira, Yanis Varoufakis deixou de jogar no apaziguamento e resolveu enfrentar o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.
O ministro das finanças grego anunciou que deixava as negociações com a comissão, e que prescindia da última tranche de 7 biliões de euros do programa estabelecido em Março de 2012. Em teoria, sem acordo com a Troika antes do fim do mês, o BCE deveria cortar o acesso dos bancos gregos ao programa ELA de liquidez de urgência.
Isto seria o sinal para uma saída catastrófica do país da zona euro. Com a falta de liquidez dos bancos, ao governo não restaria outra solução do que cunhar a sua própria moeda e impor um controlo nos fluxos de capital para evitar a asfixia.
Vai a Grécia esbarrar-se contra um muro a alta velocidade?
A estratégia actual de Atenas, basea-se nos falhanços precedentes. Resumindo: Depois da chegada de Alex Tsipras ao poder, a zona euro dispõe de dois polos opostos: Ao sul, o governo grego reclama uma reestruturação da dívida num “new deal” para a Europa; a norte, Berlim continua firme na necessidade de serem pagas na integra as dívidas e manter um programa de “reformas”.
Para dobrar Angela Merkel, Alexis Tsipras poderia seguir o caminho aberto (e fechado) por François Hollande e Matteo Renzi e propor um acordo de reformas virado para o crescimento e que sustentasse o pagamento da dívida.
Ora esta estratégia, falhou por duas vezes. Em Maio de 2012, François Hollande, após a sua vitória eleitoral pensou que faria ceder Berlim através de um programa de relançamento económico. Mas no final de Junho daquele ano, aceitou a ratificação do pacto orçamental negociado por Nicolas Sarcozy antes da sua eleição, contra um “pacto de crescimento” estimado em 120 biliões de euros, que nunca viu a luz do dia por ter ficado fechado nas gavetas de Bruxelas. Passam dois anos e Matteo Renzi, tenta flexibilizar o pacto de estabilidade e crescimento. Teve que abandonar todas as suas promessas a troco do plano Junker e do plano de relançamento alemão de 10 biliões de euros em três anos. Dito doutra forma, nada.
Partindo da constatação destes fracassos, o governo grego não podia aceitar uma posição suplicante. A situação grega não permitia conquistar aquilo que a segunda e terceira economias da zona euro não conseguiram obter. Ora, o Syriza tem que obter um resultado. Nada poderia ser pior para o novo governo que a decepção dos Gregos que manifestaram pelo voto a sua rejeição pelas políticas de austeridade bem como o eventual reforço dos partidos mais radicais.
Tendo em conta a situação política na Grécia, apostar num "retorno à razão" dos gregos em caso de fracasso do Syriza, ou seja, um voto a favor da anterior maioria, parece muito otimista. Como fazer então?
A estratégia adoptada por Atenas é então a da dureza. Recusando os 7 biliões de euros, portanto, ameaçando de nada fazer para evitar o default ou a explosão do sistema bancário, o governo grego chama na realidade os Europeus às suas responsabilidades. Força os Europeus a agir na direcção pretendida por Atenas, provocando uma nova crise na zona euro. Com efeito, se o BCE traduzir as suas ameaças em actos e a Grécia saia da zona euro, a pedra angular da política europeia, vai abaixo: a irreversibilidade do euro. Desde logo, o risco é que, nos mercados, os investidores reavaliem as suas posições à luz desta realidade.
Segunda consequência: Uma “expulsão” da Grécia pelo BCE: Os partidos “soberanistas” vislumbram a saída do euro, como a validação da sua hipótese de base. A Frente Nacional em França, a Liga do Norte e o movimento 5 Estrelas em Itália, não deixariam de aproveitar. e se a situação na Grécia, será suficiente para apontar como o caso particular grego, para relevar que França e Itália farão melhor…
Ora, recorde-se que o BCE existe por causa do euro. Enfraquecer o a moeda única, é enfraquecer o BCE. Não estou a ver o BCE a dar um tiro no pé.
Na realidade, Atenas faz uma política do quanto pior, melhor, sabendo que os dirigentes europeus não tomarão o risco do pior. Se, em Berlim, Wolfgang Schauble é, desde há muito tempo, um partidário da saída da Grécia da zona euro, já o mesmo não se passa com Angela Merkel. que tem feito tudo para salvar o euro, ao contrário do que se dizia há uns tempos a trás de que a Alemanha estava pronta para cunhar marcos.
Expulsar a Grécia do euro poderia dar-lhe alguma popularidade na Alemanha, mas validaria também as teses do partido eurocéptico AfD (Alternative fur Deutschland).
Apesar do alinhamento dos sociais-democratas, estes podem agitar-se. Sobretudo, se uma saída da Grécia da zona euro, fosse seguida de uma anulação unilateral da dívida. Porque continuaria a Grécia a pagar a sua dívida aos “partners” que a abandonaram? A posição de Angela Merkel poderia tornar-se rapidamente desconfortável. Sem contar com as eventuais consequências do Grexit na economia europeia e mundial, que afectariam também o crescimento económico alemão.
A bola está do lado dos 18 países do Eurogrupo. Para o governo de Alex Tsipras, é portanto indispensável de manter uma espada de Damocles sobre os dirigentes europeus. Se estes jogarem na firmeza das suas posições, arriscam-se a pagar um preço elevado. É o sentido a dissolução de facto da Troika. Liquidando a troika, Atenas muda assim os dados: Não está mais em posição de dever responder às suas exigências.
O desafio para Alex Tsipras e Yanis Varoufakis, é o de Mario Draghi não tomar o risco de fragilizar a zona euro para salvar o edifício da Troika.
Fontes: Financial Times, The Economist e Wall Street Journal
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