quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Ein Skandal!

Utilizo com alguma frequência o aeroporto de Frankfurt, e em 2011 fazendo uma escala, vi um video sobre o que iria ser o futuro aeroporto de Berlim, substituindo o de Tegel por estar perto da saturação.

Por estes dias decido ir a Berlim, e com espanto vejo no bilhete que o aeroporto de destino continua a ser o de Tegel. Curioso, fui à net para me inteirar do que acontecera , e fiquei espantando com o que li sobre o assunto, já que a ideia que tenho do povo alemão, dos seus trabalhadores, dirigentes de empresas e políticos não se adequa ao que se está a passar com esta obra. Esta é certamente uma das maiores bagunças vivida pelo bom aluno europeu. 

O fiasco do novo aeroporto de Berlim nunca mais termina de escandalizar os Alemães, mais acostumados a receitas milagrosas do que a desastres económicos. Muito má publicidade para o Estado federal, que se orgulha de lutar contra o desperdício.

Antes:


Agora:


O aeroporto de Berlim-Brandemburgo Willy-Brandt-que todos chamam BER, teria sido inaugurado em 3 de junho de 2012. ... Mas depois de muitos adiamentos, ninguém se atreve a avançar data concreta para a sua abertura.

Maus acabamentos, corrupção, jogos políticos e explosão dos custos. Co-finaciado pelo Estado federal, a Cidade de Berlim e o Land limítrofe de Brandemburgo onde está localizado o aeroporto, que deverá substituir as instalações saturadas de Tegel e de Schonefeld.

O orçamento inicial da obra deveria custar 2,4 mil milhões de euros aos contribuintes. Na realidade, o orçamento actual atinge os 5,4 mil milhões de euros, e poderá ser necessário reforçar a esta verba. 

Todos os dias aparecem coisas novas não previstas, e novos escândalos. Um dos trabalhadores do aeroporto afirma que não vai à internet diariamente, já que pode ter mais uma má notícia.

Alguns dias antes da inauguração oficial, os Alemães ficaram a saber com consternação que o sistema de controlo de fumos estava defeituoso o que constituiu um novo pesadelo com a recordação do incêndio no aeroporto de Dusseldorf em que dezessete pessoas morreram em 1996.

Pouco antes da abertura, descobriu-se também que trabalhadores instalaram milhares de cabos eléctricos sem o respectivo isolamento. Todos os fios tiveram que ser inspeccionados um por um. Trabalho de formiga, lento e caro Mais de cem mil outros defeitos, de acordo com um recente relatório da administração, foram detectados ao longo dos anos.

Número de balcões de check-in e tapetes rolantes para as bagagens insuficientes, ar condicionado sub-dimensinado... O código internacional do aeroporto que deveria ser BBI, teve que ser modificado, depois de um funcionário se ter apercebido que já estava a ser usado pela cidade Indiana de Bhubaneswar...

O aparente amadorismo dos dirigentes que se sucederam, uns atrás de outros, talvez explique a maior parte do fracasso deste projecto. Alfredo Di Mauro, o director de planeamento e responsável pela rede de protecção de incêndios, foi contratado pelas suas qualidades de engenheiro, mas que afinal não o era... O director técnico, Horst Amann, foi também despedido por incompetência em Outubro de 2013, e o antigo CEO da Deutsche Bahn, Hartmut Mehdorn chamado para dar a volta à situação, já informou que deixará o cargo de responsável máximo antes de Junho de 2015.

Os governos de coligação de Cidade de Berlim e do Land de Brandemburgo, que possuem cada um 37% de participação no Aeroporto, continuam a não assumir qualquer tipo de responsabilidade neste fiasco. O Estado federal prefere manter-se à distância deste dossier explosivo.

E ninguém sabe ao certo quando abre este aeroporto alemão...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"One, two, you know what to do"




Clark Terry (14.12.1920-23.2.2015) morreu ontem e segundo o jornal Público de hoje, foi a mulher que deu a notícia no site do músico: "O meu marido partiu em paz, rodeado pela família, estudantes e amigos. Juntou-se à banda do paraíso onde tocará e cantará com os anjos". Para além do trompete, foi cantor e chefe de orquestra.

Clark Terry, Miles Davis, Chet Baker e Wynton Marsalis, este último vivo e de boa saúde, são os meus favoritos no trompete de Jazz. Com a excepção de Chet Baker, tive a sorte de os ver a todos ao vivo. 

Gostava da pureza do seu som e dos seus solos de flugelhorn, um trompete um pouco maior que o habitual, com um som mais grave e doce.




Vi-o ao vivo no Parque de Palmela em Cascais no âmbito do Estoril Jazz de 1993, integrado na orquestra de Lionel Hampton (Lionel Hampton & His Golden Men of Jazz), ao lado Al Grey, Harry "Sweet's Edison (na foto acima ao lado dele), Benny Golson, Junior Mance, Jimmy Woode e Panama Francis. Recordo com saudade a sua alegria contagiante que levava o público a sorrir durante os seus solos. Ficou-ne na memória o espectáculo destes grandes interpretes de Jazz que não é fácil de reunir numa só sessão. Felizmente que a TDK editou um DVD gravado ao vivo na Munich Philharmonie, que nos permite reviver este alto momento do Jazz "clássico". 

Deste grupo estão vivos o sax tenor Benny Golson (25.1.1929)  que tem doze concertos agendados para este ano, infelizmente todos nos EUA, e o pianista Junior Mance  (10.10.1928) que em 2013 editou um CD a trio com o baixista Hidé Tanaka e a violinista Michi Fuji.

Clark Terry marcava em voz alta o início de cada novo tema com: "One, two, you know what to do", daí o título deste post.


domingo, 22 de fevereiro de 2015

Regras para comer bem

Hoje o suplemento do Jornal o Público trás como título “Devemos comer o que andamos a comer?”. Dois dos artigos “O Leite já não é uma vaca sagrada” e “Vamos declarar guerra ao Glúten” podem induzir alterações desnecessárias nos nossos padrões de consumo. Explico-me: no artigo sobre o leite, nutricionistas afirmam que este alimento é dispensável. As situações reportadas como negativas, estão associadas ao consumo exagerado de leite (2 a 3 copos de leite por dia). Como disse Philipps Paracelsus “Poison is in everything, and no thing is without poison. The dosage makes it either a poison or a remedy”. Quanto ao Glúten, o suplemento traduz um artigo do New Yorker muito mais bem fundamentado. Os que gostam de comer pasta podem estar descansados, já que apenas um por cento da população não pode comer esta proteína que se encontra nos grãos de trigo, cevada e centeio.

Segundo a Fortune o mercado dos produtos sem gluten nos EUA vale $8.8 bilhões, e 22% da população consome regularmente. Intrigante já que 99% das pessoas não têm problemas com a ingestão de Glúten.

Cada ida ao supermercado nos dias de hoje obriga-nos a navegar no que se tornou uma paisagem de comida traiçoeira. O que quer dizer "agora com fibra”? “Isento de glúten” num pacote de batata frita? “Menos 35% de gordura”? “O sabor doce que você deseja, agora com fibra”? Que se deve chamar a isto: progresso? Será que é mesmo comida?. Na outra extremidade do espectro nutricional, como é que vamos processar (muito menos digerir) a nova, exuberantemente calórica sanduíche Double Down que a KFC introduziu? Essa exaltação sem vergonha da gordura, redefine o próprio conceito de um sanduíche, substituindo o obrigatório pão por duas camadas de frango, tiras de bacon, dois tipos de queijo e uma dose de molho.

Decidir o que comer, ou mais realisticamente decidir o que se qualifica como alimento, não é fácil mum ambiente como este. Ao mesmo tempo que a KFC lança a sua nova bomba calórica, as alegações de saúde, na maioria dos casos duvidosas, proliferam. Existe uma tendência cada vez maior de colocar no mercado alimentos com fins terapêuticos, É o caso da redução do colesterol através do consumo de um tipo de margarina ou iogurte. As fibras que previnem o cancro, os produtos que reforçam o sistema imunitário, etc.

Se não podemos confiar, nas autoridades que regulam e vigiam os produtos alimentares  ou até mesmo nos nutricionistas e nos profissionais do marketing para nos guiar através dos bosques dos supermercados, então com quem podemos contar? A pergunta é : Como é que os seres humanos conseguem escolher alimentos que os mantenham saudáveis no meio da amalgama de  especialistas em nutrição, pirâmides alimentares e cereais de pequeno almoço que prometem aumentar a concentração das nossas crianças e da existência de restaurante com doses  maiores que as nossas cabeças?

Contamos com a cultura, que é outra maneira de dizer: a sabedoria acumulada da tribo. (Que é em si uma outra maneira de dizer: a avó, a mãe e os nossos amigos.) Todos nós levamos conosco regras de ouro sobre alimentação que foram passadas pelas nossas famílias ou arrancadas da cultura onde vivemos.

Tenho andando a recolher exemplos dessas regras da alimentação. A minha premissa é que,  apesar de toda a ciência posta ao serviço da nutrição, a cultura ainda tem muito mais para nos ensinar  sobre como escolher, preparar e comer alimentos, e que essa sabedoria popular é digna de preservação - talvez hoje mais do que nunca, nesta era da ciência dos alimentos deslumbrantes, porções supersize e confusão generalizada na dietética.

O meu objectivo é recolher exemplos genuínos, verdadeiramente úteis, e nutricionalmente correctos da sabedoria popular. Algumas das regras têm resistido ao teste do tempo e foram confirmadas pela ciência, mas todas elas têm algo a nos ensinar sobre nossos esforços contínuos  para escolher um caminho saudável e feliz através dos terrenos minados dos modernos supermercados ou dos menus dos restaurantes.

Chama-se “O Valor da Liberdade” e é o mais recente projeto da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Realizado em parceria com a SIC Notícias, trata-se de uma série de grandes entrevistas onde o desenvolvimento e a liberdade são os temas centrais.
Ao longo de dez semanas, dez convidados irão discutir o futuro do desenvolvimento e da liberdade, numa conversa que pretende ser um diálogo sobre “as possibilidades do humano”. O programa irá consistir numa série de “dez entrevistas com dez pensadores contemporâneos”, como explicou António José Teixeira, diretor da SIC Notícias, em entrevista. “O tema é a liberdade, mas olhando também para o desenvolvimento como condição primeira da existência humana. Mas também no sentido em que a liberdade nos responsabiliza a evoluir e a desenvolvermo-nos em diversas áreas e dimensões”, acrescentou.
Estreou ontem com entrevista ao filósofo Gilles Lipovesky. Revejam se puderem! Notável!

3º Congresso da Juventude Monárquica Portuguesa


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sábado




O DIA DA CRIAÇÃO
Rio de Janeiro , 1946
Macho e fêmea os criou. 
Bíblia: Gênese, 1, 27 
Vinicius de Moraes

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo 
A vida vem em ondas, como o mar 
Os bondes andam em cima dos trilhos 
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar. 

Hoje é sábado, amanhã é domingo 
Não há nada como o tempo para passar 
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo 
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal. 

Hoje é sábado, amanhã é domingo 
Amanhã não gosta de ver ninguém bem 
Hoje é que é o dia do presente 
O dia é sábado. 

Impossível fugir a essa dura realidade 
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios 
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas 
Todos os maridos estão funcionando regularmente 
Todas as mulheres estão atentas 
Porque hoje é sábado. 

II

Neste momento há um casamento 
Porque hoje é sábado. 
Há um divórcio e um violamento 
Porque hoje é sábado. 
Há um homem rico que se mata 
Porque hoje é sábado. 
Há um incesto e uma regata 
Porque hoje é sábado. 
Há um espetáculo de gala 
Porque hoje é sábado. 
Há uma mulher que apanha e cala 
Porque hoje é sábado. 
Há um renovar-se de esperanças 
Porque hoje é sábado. 
Há uma profunda discordância 
Porque hoje é sábado. 
Há um sedutor que tomba morto 
Porque hoje é sábado. 
Há um grande espírito de porco 
Porque hoje é sábado. 
Há uma mulher que vira homem 
Porque hoje é sábado. 
Há criancinhas que não comem 
Porque hoje é sábado. 
Há um piquenique de políticos 
Porque hoje é sábado. 
Há um grande acréscimo de sífilis 
Porque hoje é sábado. 
Há um ariano e uma mulata 
Porque hoje é sábado. 
Há uma tensão inusitada 
Porque hoje é sábado. 
Há adolescências seminuas 
Porque hoje é sábado. 
Há um vampiro pelas ruas 
Porque hoje é sábado. 
Há um grande aumento no consumo 
Porque hoje é sábado. 
Há um noivo louco de ciúmes 
Porque hoje é sábado. 
Há um garden-party na cadeia 
Porque hoje é sábado. 
Há uma impassível lua cheia 
Porque hoje é sábado. 
Há damas de todas as classes 
Porque hoje é sábado. 
Umas difíceis, outras fáceis 
Porque hoje é sábado. 
Há um beber e um dar sem conta 
Porque hoje é sábado.

Há uma infeliz que vai de tonta 
Porque hoje é sábado. 
Há um padre passeando à paisana 
Porque hoje é sábado. 
Há um frenesi de dar banana 
Porque hoje é sábado. 
Há a sensação angustiante 
Porque hoje é sábado. 
De uma mulher dentro de um homem 
Porque hoje é sábado. 
Há a comemoração fantástica 
Porque hoje é sábado. 
Da primeira cirurgia plástica 
Porque hoje é sábado. 
E dando os trâmites por findos 
Porque hoje é sábado. 
Há a perspectiva do domingo 
Porque hoje é sábado. 

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação. 
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas 
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra 
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra 
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado. 
Na verdade, o homem não era necessário 
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão. 
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias 
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa 
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos 
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra. 
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes 
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia 
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo 
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia, 
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias 
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio 
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula. 
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos 
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas 
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade 
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo 
E para não ficar com as vastas mãos abanando 
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança 
Possivelmente, isto é, muito provavelmente 

Porque era sábado.

Não fomos a Grécia

Muito se tem dito sobre a gestão dos governos gregos durante o programa de ajustamento imposto pelas Instituições Credoras. O governo de Portugal, sobranceiro aponta ao dedo, e recomenda aos Gregos que façam o seu trabalho de casa.

Ao ler o blog de Paul Krugman (http://krugman.blogs.nytimes.com/2015/02/17) este apresenta um gráfico sobre a evolução percentual da despesa pública, excluindo o serviço da dívida, em alguns países periféricos, entre 2007 e 2014. E como se pode ver a dose de austeridade na Grécia fui substancialmente maior quando comparada com outros países intervencionados como a Irlanda, Portugal e Espanha.



"Kevin O'Rourke is angry at the Irish government for self-righteously lecture Greece on the need to suck it up and be austere like the Irish. Here's a different comparison:


















Greece has done a lot more austerity than those countries cited as supposed success stories (which is another issue - success being defined as "not total collapse, and slight recovery after years of horror" - but that's a different story). And as Kevin says, the Irish government is acting against its own citizens by beating up on Greece."

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A ditadura do consumo



Nos tempos em que trabalhei nos FMCG (Fast-moving consumer goods) aprendi com os meus colegas do Marketing como a oferta gera a procura. Vi a aplicação prática das técnicas que induzem o consumo de produtos que, muitas vezes, não satisfazem necessidades dos consumidores, têm um ciclo de vida curto, e que são substituídos por outros com igual fim. 

Entendi como se cria mercado e se formatam os consumidores quer através da sofisticação dos produtos, com preços altos, quer com produtos com preço baixo, e mais importante: A mudança de uma lógica de produção, que perdurou desde a revolução industrial, com o seu vértice na produção do Ford T, para uma ditadura do mercado, e do consumo.

Deu-se também uma mudança drástica na forma de fazer negócio, que foi imposta pela mercado, e que viria a ter forte impacto na economia. Até ao início da década de 80, o produtor fazia os preços a partir dos custos que tinha para produzir os seus produtos, acrescentava-lhe a sua margem e obtinha deste modo o preço de venda. O mercado veio alterar esta forma secular de fazer negócio, já que o preço passou a ser determinado pelo mercado, sendo os custos e a margem uma consequência.

Na batalha que se joga pelo pelo menos há dois séculos entre economia e política, entre o mercado e democracia, entre capitalismo e o Estado, a vantagem vai para o mercado, porque é global, em detrimento da democracia, fechada nas suas fronteiras.

É por esta razão que Jacques Attali afirma:

"Uma economia mundial sem Estado de direito está a desenvolver-se. Ela conduz ostensivamente à vitória dos consumidores e dos produtores, actores do mercado, sobre os eleitores, actores políticos. Ela exige, como podemos ver, a deslocalização e desregulamentação. Contudo, a situação é mais complexa, porque todos os eleitores são consumidores; enquanto metade deles só são trabalhadores. Portanto, há uma domínio do eleitor-trabalhador pelo eleitor-consumidor. Em cada um de nós e na sociedade. 

Os consumidores e eleitores aliam-se-se de alguma forma contra os trabalhadores. Donde, sempre que pode fazer uma escolha, tomar uma decisão, sempre que conserva um embrião de influência, o político, qualquer que seja o seu partido, favorece o consumidor em detrimento do trabalhador para que o consumidor dirija o voto do eleitor. Assim o eleito escolhe uma política de encorajamento de preços mais baixos dos produtos, o que agrada a quem consome, embora esta diminuição favoreça as importações prejudicando os trabalhadores locais. Aqui o político opta por aumentar os impostos sobre o trabalho e baixar os impostos sobre o consumo: Mais imposto sobre rendimentos e menos IVA. Mais vale desagradar a quem volta do escritório ou da fábrica do que quem volta do supermercado.

Isso explica por que o desemprego é menos combatido que a inflação, por que o progresso tecnológico está orientado para melhorar a sorte do consumidor, ao invés de melhorar a vida dos trabalhadores. Isso também explica por que existem muitos mais acidentes de trabalho do que os envenenamentos em casa, porque a formação profissional é muito menos considerada que a indústria da distração. Se esta situação se mantiver, os trabalhadores serão cada vez mais mal pagos a fabricar produtos vendidos cada vez mais baratos para consumidores cada vez mais exigentes."

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A monarquia e a estabilidade política, um exemplo prático:




O Presidente da República na Grécia é eleito pelo Parlamento e não através de sufrágio direto. Os nomes dos candidatos são propostos pelos partidos e o candidato tem de recolher a aprovação de pelo menos dois terços dos 300 deputados que compõem o plenário grego. Caso não consigam eleger um Presidente, há uma segunda volta em que um dos nomes tem de conseguir mais uma vez um mínimo de 200 votos. No entanto, se nem à segunda ronda for possível aprovar um dos nomes, há lugar a uma terceira ronda em que o número de votos exigidos baixa para 180.
Foi precisamente a falta de um consenso em torno do homem que iria sentar-se no Palácio Presidencial que deu origem à crise política e às eleições antecipadas que conduziram a coligação de esquerda radical ao poder.


Daqui: http://monarquia-lisboa.blogs.sapo.pt

Kant - "Age de modo que consideres a humanidade tanto na tua pessoa quanto na de qualquer outro, e sempre como objetivo, nunca como simples meio."

Há um testemunho de Kant que diz bem da sua grandeza de filósofo e de homem. Poucos dias antes de morrer - 12 de Fevereiro de 1804 -, confiou a amigos: "Senhores, eu não temo a morte, eu saberei morrer. Asseguro-vos perante Deus que, se sentisse que esta noite iria morrer, levantaria as mãos juntas e diria: Deus seja louvado! Mas, se um demónio mau se colocasse diante de mim e me insinuasse ao ouvido: Tu tornaste um homem infeliz, ah! então seria outra coisa.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O Dr. António Sousa Homem




A primeira vez que li António Sousa Homem foi na Revista K, dirigida por Miguel Esteves Cardoso e editada mensalmente. A revista foi publicada entre 1990 e 1993. Recordo que começava sempre a leitura pelas crónicas do Dr. António Sousa Homem, onde se podia ler em pé de página que o “Dr. António Sousa Homem não tem e-mail”. António Sousa Homem, Advogado de profissão, nascido em 1920 e retirado nos confins do Alto Minho. passa inverno no seu palacete de Ponte de Lima onde se pode ver um retrato do Senhor D. Miguel, e os meses de verão em Moledo.

Ultra conservador e homem de hábitos, a sua perspectiva irónica sobre os costumes e a evolução da sociedade portuguesa é do melhor que já li, transformando cada leitura num momento delicioso de humor que apetece não ter fim.

Daí que aconselhe vivamente os seus três livros, “Os Ricos Andam Tolos”, “Os Males da Existência” e mais recentemente “Um Promontório em Moledo” que correspondem a compilações das suas crónicas semanais, espalhadas pela imprensa nacional.



Dito isto, confesso que sempre imaginei o Dr. Sousa Homem no remanso da sua merecida reforma, à sombra das árvores seculares do seu jardim enquanto lia o “Minho Pittoresco” e velhos exemplares de “O Primeiro de Janeiro” mas, há tempos a ler um número da revista “GQ”, “tropecei” na entrevista mensal de João Pereira Coutinho, desta feita ao escritor Francisco José Viegas.

Se já admirava FJV pela sua escrita, agora passei a admirá-lo ainda mais: é que no decurso da entrevista revela-se finalmente aquilo que para mim era uma mera suposição, mas que não conseguia materializar – que o Dr. Sousa Homem era um pseudónimo e que o seu verdadeiro autor, agora confesso, é nada mais nada menos que o próprio FJV. 

Se se perdeu o encanto do mistério, ganhou-se certamente maior longevidade para a sua obra, já ameaçada pelos 90 e muitos anos anos do Dr. Sousa Homem.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

Tudo com dantes, quartel general em Abrantes

José Sócrates, manipulava os números, e na parte final da sua queda, era obstinado em dourar a pílula num tom muito assertivo. Passos Coelho, é mais sereno na comunicação, mas manipula e mente. Ou sendo mais rigoroso, é omisso e mente na maneira como informa os portugueses, com o beneplácito de Cavaco Silva. Isto vem a propósito da antecipação do pagamento de 14 mil milhões do empréstimo concedido pelo FMI, e da contribuição de Portugal para o resgate da Grécia.

Dois exemplos:

Em Setembro de 2014, Pedro Passos Coelho em Atenas afirmou que “o reembolso antecipado ao FMI é bom princípio também para Portugal”. Em Janeiro, ouvi a Ministra das Finanças anunciar no Parlamento que o Estado acumulou “um montante de reservas de liquidez muito significativo” e que ia proceder ao pagamento antecipado do empréstimo de 14 mil milhões. Depois, Cavaco Silva reforçou “É um ganho para Portugal, é uma ganho para os Portuguese e eu espero que seja um ganho para aqueles que foram mais atingidos pelos problemas que atingiram o nosso país".Fiquei surpreendido e satisfeito, porque finalmente começava a haver uma luz ao fundo do túnel. Pensei que todos os sacrifícios feitos pelos Portugueses nos últimos três anos começavam a ser compensados com a redução da maldita dívida.“ Entretanto Manuela Ferreira Leite, no seu espaço na TVI24 desta semana, não obstante considerar uma boa iniciativa, esclarece que este pagamento não tem nenhum efeito sobre a dívida, uma vez que se trata de trocar dívida a um juro mais alto, por uma nova a um juro mais baixo. Ou seja o documento dos 70 que falava em restruturação da dívida, afinal tinha razão de ser, já que o que se fez foi um tipo de restruturação.





Passos Coelho, no final do do Conselho Europeu Informal afirmou "Portugal é de longe o país dentro da União Europeia que em percentagem do seu produto maior esforço fez de apoio e solidariedade em relação à Grécia e, portanto, teríamos mais do que gosto em saber que os esforços que fizemos ajudaram a Grécia a vencer os seus problemas”. Não foi, segundo o Jornal Público de ontem. Portugal está, na verdade, entre os países da zona euro que concederam, até agora, menor volume de empréstimos à Grécia, quer em percentagem do PIB, quer tendo em conta dimensão da sua população como se vê neste gráfico. A razão para este facto prende-se com a entrada da troika em Portugal: a partir do momento em que o país começou a ser ajudado, ficou naturalmente dispensado dos custos associados à ajuda financeira à Grécia.



NYC, november,1st

On our last visit to NY, saturday, November 1st., I walked along 56th Street , trying to find Patsis's , the famous Italian restaurant.
It was not a pleasant day, it rained, it was windy, so I walked with the umbrella opened, paying attention where I put my feet.
Suddenly, on my back, I listenned a father's son conversation.
It was not at all my intention to be nosy, but it was innevitable.
I listenned the father saying:
" Sorry, but I didn't get yet what's the point of buying a 10/5 snickers"
"They are so, very cheap dad", the son replies! 
" But, you are a 8/5!!!!!" , I heard the dad say! 
" And, did you realize, y'll have to wait ages for using them!?"
" But I can sell them and earn a lot of money!" the son argued!
" To whom,for Christ sake? The guy is selling you the big snickers, because there's no else interested! Don't you see ?"

Then, I finally arrived at Patsis's
I do not know if the dad made is point!
Hope so!

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Carta de Alex Tsipras aos leitores do jornal alemão Handelsblatt

A carta que primeiro-ministro Grego endereçou aos leitores alemães do Handelsblatt, ajuda a compreender melhor a posição do seu governo face à realidade actual na Grécia, e  que opções tem a Grécia para um futuro na UE ou fora dela.

What You Were Never Told About Greece

Authored by Alexis Tsipras via Syriza.net,
Most of you, dear [German] readers, will have formed a preconception of what this article is about before you actually read it. I am imploring you not to succumb to such preconceptions. Prejudice was never a good guide, especially during periods when an economic crisis reinforces stereotypes and breeds biggotry, nationalism, even violence.
In 2010, the Greek state ceased to be able to service its debt. Unfortunately, European officials decided to pretend that this problem could be overcome by means of the largest loan in history on condition of fiscal austerity that would, with mathematical precision, shrink the national income from which both new and old loans must be paid. An insolvency problem was thus dealt with as if it were a case of illiquidity.
In other words, Europe adopted the tactics of the least reputable bankers who refuse to acknowledge bad loans, preferring to grant new ones to the insolvent entity so as to pretend that the original loan is performing while extending the bankruptcy into the future. Nothing more than common sense was required to see that the application of the 'extend and pretend' tactic would lead my country to a tragic state. That instead of Greece's stabilization, Europe was creating the circumstances for a self-reinforcing crisis that undermines the foundations of Europe itself.
My party, and I personally, disagreed fiercely with the May 2010 loan agreement not because you, the citizens of Germany, did not give us enough money but because you gave us much, much more than you should have and our government accepted far, far more than it had a right to. Money that would, in any case, neither help the people of Greece (as it was being thrown into the black hole of an unsustainable debt) nor prevent the ballooning of Greek government debt, at great expense to the Greek and German taxpayer.
Indeed, even before a full year had gone by, from 2011 onwards, our predictions were confirmed. The combination of gigantic new loans and stringent government spending cuts that depressed incomes not only failed to rein the debt in but, also, punished the weakest of citizens turning people who had hitherto been living a measured, modest life into paupers and beggars, denying them above all else their dignity. The collapse of incomes pushed thousands of firms into bankruptcy boosting the oligopolistic power of surviving large firms. Thus, prices have been falling but more slowly than wages and salaries, pushing down overall demand for goods and services and crushing nominal incomes while debts continue their inexorable rise. In this setting, the deficit of hope accelerated uncontrollably and, before we knew it, the 'serpent's egg' hatched – the result being neo-Nazis patrolling our neighbourhoods, spreading their message of hatred.
Despite the evident failure of the 'extend and pretend' logic, it is still being implemented to this day. The second Greek 'bailout', enacted in the Spring of 2012, added another huge loan on the weakened shoulders of the Greek taxpayers, "haircut" our social security funds, and financed a ruthless new cleptocracy.
Respected commentators have been referring of recent to Greece's stabilization, even of signs of growth. Alas, 'Greek-covery' is but a mirage which we must put to rest as soon as possible. The recent modest rise of real GDP, to the tune of 0.7%, signals not the end of recession (as has been proclaimed) but, rather, its continuation. Think about it: The same official sources report, for the same quarter, an inflation rate of -1.80%, i.e. deflation. Which means that the 0.7% rise in real GDP was due to a negative growth rate of nominal GDP! In other words, all that happened is that prices declined faster than nominal national income. Not exactly a cause for proclaiming the end of six years of recession!
Allow me to submit to you that this sorry attempt to recruit a new version of 'Greek statistics', in order to declare the ongoing Greek crisis over, is an insult to all Europeans who, at long last, deserve the truth about Greece and about Europe. So, let me be frank: Greece's debt is currently unsustainable and will never be serviced, especially while Greece is being subjected to continuous fiscal waterboarding. The insistence in these dead-end policies, and in the denial of simple arithmetic, costs the German taxpayer dearly while, at once, condemning to a proud European nation to permanent indignity. What is even worse: In this manner, before long the Germans turn against the Greeks, the Greeks against the Germans and, unsurprisingly, the European Ideal suffers catastrophic losses.
Germany, and in particular the hard-working German workers, have nothing to fear from a SYRIZA victory. The opposite holds. Our task is not to confront our partners. It is not to secure larger loans or, equivalently, the right to higher deficits. Our target is, rather, the country's stabilization, balanced budgets and, of course, the end of the grand squeeze of the weaker Greek taxpayers in the context of a loan agreement that is simply unenforceable. We are committed to end 'extend and pretend' logic not against German citizens but with a view to the mutual advantages for all Europeans.
Dear readers, I understand that, behind your 'demand' that our government fulfills all of its 'contractual obligations' hides the fear that, if you let us Greeks some breathing space, we shall return to our bad, old ways. I acknowledge this anxiety. However, let me say that it was not SYRIZA that incubated the cleptocracy which today pretends to strive for 'reforms', as long as these 'reforms' do not affect their ill-gotten privileges. We are ready and willing to introduce major reforms for which we are now seeking a mandate to implement from the Greek electorate, naturally in collaboration with our European partners.
Our task is to bring about a European New Deal within which our people can breathe, create and live in dignity.
A great opportunity for Europe is about to be born in Greece. An opportunity Europe can ill afford to miss.



Dia de inverno e de chuva no Alto Minho. Fica-se em casa, com boa comida, bom vinho, boa companhia, e uma lareira sempre acesa.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Porque sou monárquico

Quando as pessoas que me conhecem sabem que me considero monárquico, ficam surpreendidas. Isso é compreensível, pois há pouco na minha vida que possa sugerir sentimentos monárquicos. Eu não tenho na família ascendência real ou aristocrática. As minhas convicções políticas estão no campo liberal. Todavia, sou monárquico. 

Eu acredito que para na maioria dos países a monarquia constitucional, é a melhor forma de governação, com um chefe de estado hereditário e um chefe de governo eleito. Suponho que será possível para qualquer um questionar as monarquias do passado e não advogar a continuação oficial das dinastias no presente. Mas não é o meu caso. 

Desde o 25 de Abril todos os ocupantes eleitos do Palácio de Belém não me satisfizeram, em particular este último. Desde que me tornei consciente da política, não houve um presidente que eu sentisse como um símbolo do meu país, e que poderia admirar como um padrão do patriotismo não-partidário. É essencialmente por isto, a minha opção pela monarquia constitucional. 

Todos os países necessitam de um líder de Estado que o represente, que garanta a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas, bem como de decisores políticos. No entanto, parece-me que não é possível que um líder eleito (ou seja, um político) represente verdadeiramente todo o povo de seu país, já que, inevitavelmente, uma parte significativa dele vai ser favorecido por pertencer ao(s) partido(s) que o elegeram. opondo-se aos que não votaram nele. 

É por isso que eu acho que a pessoa que acolhe os líderes que nos visitam, viaja para o exterior para representar o país, homenageia cidadãos ilustres, e fala em momentos de preocupação nacional e celebração, não deve ser a mesma pessoa que tem levantado grandes somas de dinheiro para as eleições, é obrigado a criticar outros políticos, e, por definição, deve tomar decisões controversas. 

A monarquia hereditária destituída do poder político é a maneira mais fácil de ter à frente do Estado alguém apolítico. Com poucas excepções, os monarcas europeus do século XX têm entendido isso muito bem e cumpriram as suas tarefas de forma admirável.

Os críticos da monarquia muitas vezes queixam-se de que a monarquia é um sistema antidemocrático. Mas, na Europa Ocidental, a monarquia constitucional não criou obstáculos às  agendas democráticas, mesmo socialistas. 

Nas democracias, repúblicas ou monarquias, é a opinião das pessoas e as decisões de seus líderes eleitos que determinam o clima político de um país. É verdade que numa monarquia, nenhum plebeu pode aspirar a ser rei. Mas, na prática, o cargo de presidente de uma república moderna, com seus intimidantes requisitos financeiros, pessoais e educacionais, dificilmente é aberta a todos. E, de certa forma, o republicanismo é mais exclusivo. Presidentes de repúblicas são quase sempre homens de meia-idade. Eles tendem a ser moderadamente inteligentes, moderadamente com boa aparência, moderadamente um monte de coisas. A Monarquia pelo seu lado, pode limitar o cargo de chefe de Estado a uma família, mas também abre a porta para uma ampla variedade de tipos de pessoas que, numa república podem nunca ter sido capazes de serem eleitos devido a preconceitos, e não por culpa própria. 

A chefia do Estado por Rei, por ser hereditária, não possui a ambição extraordinária e, por vezes, comportamentos antiéticos que muitas vezes definem os políticos bem sucedidos para além de seus concidadãos.

Há algo de especial e mágico, algo que as palavras não podem descrever completamente, acerca de um rei ou rainha, que um presidente nunca pode esperar poder oferecer. 


Acredito que a longa história da nossa monarquia é um gloriosos tesouro para ser valorizado, e que a monarquia seria a única ligação contínua a esse passado