terça-feira, 30 de junho de 2015

O primeiro país desenvolvido que vai falhar um pagamento ao FMI?

Hoje, a Grécia parece ser o primeiro país desenvolvido que vai falhar o pagamento de um empréstimo ao FMI. Em teoria, isto deveria ser um não-evento para os mercados globais e para o andamento dos negócios. Grécia é um pequeno país, a sua “crisis” tem vindo a fermentar há seis anos, e a sua dívida, na maioria, está nas mãos de instituições oficiais - governos e bancos centrais - e não em credores privados. Mas o presidente do New York Fed, Bill Dudley disse na sexta-feira ao Financial Times, que se tende a “subestimar todos os diferentes canais em termos de como funciona o contágio”. 

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Será que Alex Tsipras é o condutor maluco da Europa?


Na semana passada era quase impossível seguir os acontecimentos relacionados com as negociações entre a Grécia e o Eurogrupo, tal era a velocidade com que surgiam notícias, muitas vezes contraditórias. Por incrível que pareça. não obstante a situação limite a que se chegou, é possível perceber a estratégia de cada um dos lados, considerando que o lado dos 18 é comandado pela Alemanha.

Será que Alex Tsipras é o condutor maluco da Europa? À primeira vista podemos pensar que sim. Oficialmente a Grécia está ainda num programa de ajustamento acordado com a Troika, e o seu sistema bancário depende do acesso à liquidez de urgência do BCE e a falta de pagamento das dívidas, em particular ao FMI, aproxima-se.

Nas últimas semanas o governo de Atenas e o seu ministro das Finanças adoptaram um estilo low profile, procurando arrancar concessões aos seus credores.

Mas o governo helénico alterou a sua estratégia na semana passada. Na Sexta-feira, Yanis Varoufakis deixou de jogar no apaziguamento e resolveu enfrentar o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.

O ministro das finanças grego anunciou que deixava as negociações com a comissão, e que prescindia da última tranche de 7 biliões de euros do programa estabelecido em Março de 2012. Em teoria, sem acordo com a Troika antes do fim do mês, o BCE deveria cortar o acesso dos bancos gregos ao programa ELA de liquidez de urgência.

Isto seria o sinal para uma saída catastrófica do país da zona euro. Com a falta de liquidez dos bancos, ao governo não restaria outra solução do que cunhar a sua própria moeda e impor um controlo nos fluxos de capital para evitar a asfixia.

Vai a Grécia esbarrar-se contra um muro a alta velocidade?

A estratégia actual de Atenas, basea-se nos falhanços precedentes. Resumindo: Depois da chegada de Alex Tsipras ao poder, a zona euro dispõe de dois polos opostos: Ao sul, o governo grego reclama uma reestruturação da dívida num “new deal” para a Europa; a norte, Berlim continua firme na necessidade de serem pagas na integra as dívidas e manter um programa de “reformas”.

Para dobrar Angela Merkel, Alexis Tsipras poderia seguir o caminho aberto (e fechado) por François Hollande e Matteo Renzi e propor um acordo de reformas virado para o crescimento e que sustentasse o pagamento da dívida.

Ora esta estratégia, falhou por duas vezes. Em Maio de 2012, François Hollande, após a sua vitória eleitoral pensou que faria ceder Berlim através de um programa de relançamento económico. Mas no final de Junho daquele ano, aceitou a ratificação do pacto orçamental negociado por Nicolas Sarcozy antes da sua eleição, contra um “pacto de crescimento” estimado em 120 biliões de euros, que nunca viu a luz do dia por ter ficado fechado nas gavetas de Bruxelas. Passam dois anos e Matteo Renzi, tenta flexibilizar o pacto de estabilidade e crescimento. Teve que abandonar todas as suas promessas a troco do plano Junker e do plano de relançamento alemão de 10 biliões de euros em três anos. Dito doutra forma, nada.

Partindo da constatação destes fracassos, o governo grego não podia aceitar uma posição suplicante. A situação grega não permitia conquistar aquilo que a segunda e terceira economias da zona euro não conseguiram obter. Ora, o Syriza tem que obter um resultado. Nada poderia ser pior para o novo governo que a decepção dos Gregos que manifestaram pelo voto a sua rejeição pelas políticas de austeridade bem como o eventual reforço dos partidos mais radicais.

Tendo em conta a situação política na Grécia, apostar num "retorno à razão" dos gregos em caso de fracasso do Syriza, ou seja, um voto a favor da anterior maioria, parece muito otimista. Como fazer então?

A estratégia adoptada por Atenas é então a da dureza. Recusando os 7 biliões de euros, portanto, ameaçando de nada fazer para evitar o default ou a explosão do sistema bancário, o governo grego chama na realidade os Europeus às suas responsabilidades. Força os Europeus a agir na direcção pretendida por Atenas, provocando uma nova crise na zona euro. Com efeito, se o BCE traduzir as suas ameaças em actos e a Grécia saia da zona euro, a pedra angular da política europeia, vai abaixo: a irreversibilidade do euro. Desde logo, o risco é que, nos mercados, os investidores reavaliem as suas posições à luz desta realidade.

Segunda consequência: Uma “expulsão” da Grécia pelo BCE: Os partidos “soberanistas” vislumbram a saída do euro, como a validação da sua hipótese de base. A Frente Nacional em França, a Liga do Norte e o movimento 5 Estrelas em Itália, não deixariam de aproveitar. e se a situação na Grécia, será suficiente para apontar como o caso particular grego, para relevar que França e Itália farão melhor…

Ora, recorde-se que o BCE existe por causa do euro. Enfraquecer o a moeda única, é enfraquecer o BCE. Não estou a ver o BCE a dar um tiro no pé.

Na realidade, Atenas faz uma política do quanto pior, melhor, sabendo que os dirigentes europeus não tomarão o risco do pior. Se, em Berlim, Wolfgang Schauble é, desde há muito tempo, um partidário da saída da Grécia da zona euro, já o mesmo não se passa com Angela Merkel. que tem feito tudo para salvar o euro, ao contrário do que se dizia há uns tempos a trás de que a Alemanha estava pronta para cunhar marcos.

Expulsar a Grécia do euro poderia dar-lhe alguma popularidade na Alemanha, mas validaria também as teses do partido eurocéptico AfD (Alternative fur Deutschland).

Apesar do alinhamento dos sociais-democratas, estes podem agitar-se. Sobretudo, se uma saída da Grécia da zona euro, fosse seguida de uma anulação unilateral da dívida. Porque continuaria a Grécia a pagar a sua dívida aos “partners” que a abandonaram? A posição de Angela Merkel poderia tornar-se rapidamente desconfortável. Sem contar com as eventuais consequências do Grexit na economia europeia e mundial, que afectariam também o crescimento económico alemão.

A bola está do lado dos 18 países do Eurogrupo. Para o governo de Alex Tsipras, é portanto indispensável de manter uma espada de Damocles sobre os dirigentes europeus. Se estes jogarem na firmeza das suas posições, arriscam-se a pagar um preço elevado. É o sentido a dissolução de facto da Troika. Liquidando a troika, Atenas muda assim os dados: Não está mais em posição de dever responder às suas exigências.

O desafio para Alex Tsipras e Yanis Varoufakis, é o de Mario Draghi não tomar o risco de fragilizar a zona euro para salvar o edifício da Troika.


Fontes: Financial Times, The Economist e Wall Street Journal

Vasco Pulido Valente vai a banhos.


Vou estar um mês sem elencos de basbaques, carregadores de geringonças, tótós, desprovidos de massa cinzenta, indígenas e outros, vivos ou já mortos, a quem o Vasco Puldio Valente (VPV) bate todas as semanas. No Público de sábado em nota de rodapé, informa-se os leitores que VPV estará de férias até Setembro. É um descanso merecido para quem passou um ano inteiro a cascar.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O governo grego já capitulou?

Em menos de uma semana, a Grécia de Alexix Tsipras deverá pagar 1,6 mil milhões de euros ao FMI para evitar a banca rota. As negociações estão no limite entre Atenas e os seus credores. A cópia apresentada na passada segunda-feira não satisfez a Troika que tratou de a emendar profundamente como mostrou o Financial Times. E como não se refaz, a Troika repete os mesmo erros. Digo isto, já que os anteriores governos de esquerda e direita aplicaram as medidas preconizadas pelo trio, e os resultados são desastrosos. 

Fala-se muito em questões ideológicas, mas eu estou pessoalmente convencido que os macro-economistas daquelas instituições, acreditam que a seguir a um choque austeritário que ponha as contas públicas em ordem, a economia tem condições para crescer de forma sadia. Ora na Grécia as medidas passadas do papel à prática não atingiram aquele propósito quanto às contas públicas e destruiram a economia. A Grécia vive agora das receitas do turismo e pouco mais. Como dizia Lobo Xavier na última Quadratura, pode-se verter enormes somas de dinheiro para a Grécia, que o país não sai da profunda crise, já que a economia grega já era frágil antes da crise das dívidas soberanas, e agora é quase inexistente.

Não obstante as declarações dos governantes europeus de que se vai no sentido de um acordo, o caminho é ainda longo, como prova o documento oficial das negociações, publicado pelo Financial Times, acima referido, que foi devolvido ao governo grego, após correcções pela ex-Troika. Os leitores do texto constataram que as correcções efectuadas a vermelho, de uma forma professoral, vão todas no mesmo sentido. Mais esforços e a preocupação constante de salvar as empresas de impostos suplementares. Aqui vai uma selecção das propostas de maiores reajustamentos:
  • A Troika limita o IVA reduzido aos medicamentos e não ao conjunto dos tratamentos médicos.
  • Sempre mais esforços? Enquanto o governo se propõe reduzir o budget das forças armadas em 200 milhões, é reclamado uma redução de 400 euros.
  • Do lado das despesas, a proposta de passar de 26 a 29% o imposto sobre as empresas, não é apreciada pela ex-Troika, que considera os 28% suficientes.
  • No mesmo espírito, o imposto excepcional para 2015 de 15% sobre os lucros que excedam 0,5 milhões de euros, foi simplesmente riscado.
  • Quanto às propostas sobre a reforma do sistema de pensões, estas foram quase re-escritas de A a Z.

terça-feira, 16 de junho de 2015

A nova fonte de energia do Japão - Central de produção de energia solar flutuante


Após o desastre nuclear de Fukushima 2011, o Japão fez uma reflexão séria sobre o investimento em energias renováveis, tornando-se um dos líderes mundiais em energia solar. Mas a nação enfrentou um problema nos seus esforços nesta direcção: a falta de terra adequada.

Numa solução promissora, o país está a voltar-se para unidades de produção de energia solar flutuantes, offshore. Arrancaram já dois grandes sistemas com esta concepção, na cidade de Kato, segundo a Quartz. Os sistemas são constituídos por de cerca de 9,000 painéis solares sobre um leito de polietileno, totalmente à prova de água.

De acordo com a Kyocera, o fabricante de equipamentos electrónicos que desenvolveu os sistemas solares flutuantes, as duas novas centrais de cidade de Kato, deverão gerar 3.300 MWh anualmente, fornecendo energia suficiente para abastecer cerca de 920 casas. A empresa esteve também esteve por detrás da iniciativa da instalação flutuante solar, a leste de Tóquio, que é ainda maior, alimentando quase 5.000 lares.

Estas "mega-plataformas" têm uma série de benefícios em comparação com as instalações solares tradicionais erguidas em terra. A revista Wire  referia que estas novas plataformas de aproveitamento da energia solar, são mais eficientes, devido ao efeito de arrefecimento da água por debaixo do sistema. Além disso, a sombra produzida pelas centrais ajuda a reduzir a evaporação da água bem como o crescimento de algas.

Existem também algumas preocupações, por exemplo, de como as estruturas serão capazes de resistir a desastres naturais. De acordo com a National Geographic, no entanto, os sistemas foram concebidos para suportar ventos de furacão com velocidades até 190 Km/h conforme testes realizados no Laboratório aeroespacial de  Onera, em França. Além disso, os sistemas têm sido descritos como à prova de sismo. Acresce que também que o custo de instalação e exploração podem ser superiores aos sistemas solares tradicionais.

Ainda assim, Kyocera argumenta que as ilhas flutuantes podem desempenhar um papel determinante em ajudar Japão em cumprir a sua meta de atingir 100 por cento de energias renováveis até o ano de 2040.

Ichiro Ikeda, um porta-voz da Kyocera, disse à National Geographic que "[O] país tem muitos reservatórios para fins agrícolas e de controlo de enchentes" e "Há um grande potencial na realização de geração de energia solar nessas superfícies de água.”

O Japão não é o único país investir nestas “ilhas" solares. Estão também no pipe-line projectos na Índia, Austrália, Grã-Bretanha, Brasil.

domingo, 14 de junho de 2015

800 anos da Magna Carta


Comemoram-se hoje 800 anos da publicação da Magna Carta em 15 de Junho de 1215. A Magna Carta e o documento, the Charter of the Forest, assentaram as bases para muitos conceitos que continuam a definir a vida democrática hoje. Como símbolos de justiça,  eles também actuam como lembretes poderosos para os que governam, o fazerem apenas com o consentimento do povo.

A Magna Carta é um dos documentos históricos mais significativos do mundo anglófono. A Great Charter marcou em primeira instância que um rei está obrigado a aceitar uma lista de termos elaborados por seus súbditos. Em 1770, o primeiro-ministro britânico William Pitt, descreveu a Magna Carta como "A Bíblia da Constituição Inglesa".

Principios chave da Magna Carta:
  1. Nobody is above the law of the land: A base da ideia de que ninguém está acima da lei, ou justiça igual para todos os níveis da pirâmide social.
  2. Habeas Corpus:  Liberdade em caso de detenção ilegal sem justa causa ou de provas. 
  3. Julgamento por júri: Regras para resolver disputas entre barões e a Coroa, estabelecendo o julgamento com um júri dos seus pares.
  4. Os direitos das mulheres: Uma viúva não podia ser forçada a casar-se e desistir de sua propriedade - um importante primeiro passo para os direitos das mulheres.
Os historiadores estabelecem a sua origem nos nobres rebeldes que redigiram a Magna Carta para restringir o poder do seu próprio monarca D.João. A Magna Carta, assinada em 1215, garantiu liberdades principalmente para os nobres de Inglaterra, e pôs fim ao poder absoluto dos soberanos ingleses com eles, também, obrigados a ser responsabilizados pela lei.

D. João teve uma relação tumultuosa com o Papa Inocêncio III, uma figura controversa no início do século 13 que alegou autoridade suprema sobre soberanos europeus. Depois de se opor à nomeação de Stephen Langton como arcebispo de Canterbury em 1207, D. João tornou-se o primeiro monarca Inglês a ser excomungado. D.João decidiu  tributar a Igreja e tomar posse de parte das suas terras em Inglaterra. Ele foi ainda mais impopular entre os barões ingleses, a quem tributou pesadamente para pagar as suas operações militares que se revelaram um fracasso. Em 1214, D. João lançou uma invasão, mal sucedida em França, e tributou novamente a nobreza Inglês para pagar a guerra, o que provocou uma revolta dos barões em 1215.

Para resolver a agitação civil e acabar com o abuso de poder do rei, Langton e um grupo de barões rebeldes esboçaram os artigos, que vieram a compor a Magna Carta. Com medo de que a rebelião pudesse  escalar para uma guerra civil em grande escala e pôr em perigo o seu trono, o D.João colocou o seu selo sobre o documento em Runnymede em 15 de junho de 1215, tornando-se a primeira constituição escrita da Europa. Depois de apenas algumas semanas, o Papa Inocêncio III, que já se tinha reconciliado com o rei João, anulou a Magna Carta por insistência do rei. Isto reacendeu a violência entre a monarquia e os barões, mas depois da morte repentina do D.João em 1216, a Magna Carta foi restabelecida pelo rei Henrique III, e revista em 1216, 1217 e 1225.

As quatro cópias restantes do original da Magna Carta estão na Catedral de Salisbury, Catedral de Lincoln e do Museu Britânico.

The Story of Magna Carta


segunda-feira, 8 de junho de 2015

São mesmo os 50 melhores restaurantes?


Pelo décimo terceiro ano, tivemos a grande algazarra mediática do ranking dos melhores restaurantes do mundo, consagrando a cozinha química, saudada quase unanimemente pela imprensa e com o apoio da indústria alimentar.

Apesar de alguma lucidez por parte de alguns media que até então tinham caído na armadilha deste ranking gastronómico, o "Fifty Best", ou seja, o top 50 dos restaurantes do mundo, é considerado uma farsa por muitos críticos gastronómicos, em particular os franceses. São autores desta farsa, o grupo de media e eventos britânico William Reed e sua revista The Restaurant, assistidos pela empresa de comunicação Speed Com.  

Para os críticos, em particular os franceses, desta iniciativa, é surpreendente que as águas San Pellegrino, uma subsidiária da Nestlé-Waters, patrocine o "Fifty Best" , já que a empresa não desconhece os “abusos e irregularidades que mais parecem propaganda política que uma uma selecção de boas mesas”. O risco é grande, na verdade, cansados de ser colocados para baixo por uma imprensa que se aproveita da despromoção sistemática dos maiores cozinheiros franceses no ranking, para explicar o declínio da culinária em França, os restauradores franceses podem um dia decidir um boicote à San Pellegrino.

O campeão da edição de 2013, El Celler de Can Roca, na Catalunha, dos irmãos Roca, templo da “cozinha tecno emocional” ganha pela segunda vez o título de melhor restaurante do mundo. Os laureados deste ano são especializados na pesquisa dos fenómenos olfactivos do universo alimentar.

Inspiram-se no trabalho dos grandes perfumistas como Rabane, Dior ou Chanel. Os irmãos Roca usam processos de extracção aromática e de concentração de sabores, obtidos graças a um aparelho chamado Rotaval. Este destilador em perfumes de baixa e alta temperatura faz com que seja possível multiplicar os cheiros de comida. Basta dizer que a cozinha do “Soufflé de cogumelos Porcini sem ovo nem farinha ao fumo da madeira de abetos do bosque” prato de assinatura da casa, poderia facilmente ser confundida com um laboratório de física nuclear.

Em Segundo lugar posição, o italiano Massimo Bottura, um seguidor da cozinha "avant garde" em Modena; em terceiro lugar o Dinamarquês Rene Redzepi, Chef do Noma, em Copenhaga, com duas estrelas Michelin, campeão em 2014, que despachou 63 clientes para o hospital em 2013, bem como o Dinner, restaurante do Hotel Mandarin Oriental, comandado pelo chef “molecular” Heston Bluementhal que enviou 24 para clientes ao hospital em 2014 (já tinha no seu CV, 527 clientes que foram parar ao Hospital em 2009 e ainda usa orgulhosamente sua terceira estrela Michelin), classificado em sétimo. Em resultado destes casos de intoxicação alimentar não devia ser a San Pellegrino a patrocinar este ranking, mas Pfizer e Aventis, para os efeitos, e Bayer e Monsanto, para as causas.

É preciso ler até ao fim da lista (que contem 100) para encontrar o primeiro restaurante português, o Belcanto de José Avidez em 91º, seguido do Vila Joya de Dieter Koschina em 98º.

A França que dominou a gastronomia durante anos com a sua “alta cozinha”, que inventou a nouvelle cousine nos anos setenta, e com Chefs conhecidos mundialmente como Alain Ducasse (57º com o Alain Ducasse no Plaza Athénée) ou Joel Robuchon (63º com o seu L'Atelier Saint Germain) tem o seu primeiro restaurante da lista com o Mirazur em Menton. 

Não sendo eu um especialista em gastronomia mas tentando manter-me bem informado sobre as melhores mesas e o que os mais reputados Chefs vão fazendo, não deixo de ficar surpreendido por Ducasse e Robuchon estarem fora dos primeiros 50.

No caso dos 50 melhores restaurantes do mundo, promove-se o avant-garde artístico dos adeptos da cozinha molecular para que a indústria química e alimentar possam introduzir tecnologias inovadoras num sector considerado conservador. Escusado será dizer que qualquer crítica ao método ou aos produtos utilizados é considerada como obscurantista, já que o molecular é testemunha de um progresso civizacional dos cozinheiros em consonância com o seu tempo.

Trabalhei muitos anos na indústria alimentar onde a regulação é muito apertada, e as normas de higiene estritas. Na União Europeia há lista positivas dos ingredientes e aditivos a utilizar, que são transpostas para os países membros e que são respeitadas. Desde que comecei a trabalhar na indústria até à presente data fui testemunha de uma enorme a evolução a quanto à regulação em ordem a proteger o consumidor. 

Há anos quando o empregado do restaurante me referia que a mousse era caseira, eu respondia que queria da industrial. Os meus companheiros de mesa pensavam que era brincadeira, mas tinha mais segurança no que era produzido pela indústria, e estava longe de pensar na evolução observada nas cozinhas com uma zona para armazenagem dos produtos químicos, e nos processos utilizados, muitos deles aplicados na indústria.

Hoje, na cozinha molecular e não só, é vulgar o uso de alginato de sódio E401, metilcelulose E461, monoglutamato de sódio E621, os carragenatos e polissacarídeos E407, o estabilizante E450, a xantana E415 e o azoto líquido, aditivos usados na há muito usados na indústria.

Afinal de contas, um júri improvisado e sem controlo (incluindo alguns membros que bateram a porta denunciando pressão contínua para favorecer um candidato  em particular), convocado por uma empresa especializada em marketing e financiado pela indústria agro-alimentar, decidiu estabelecer um ranking anual dos 50 melhores restaurantes do mundo, o que não é ilegal. O que é chocante, neste caso, é a velocidade e entusiasmo com que a maior parte dos media, normalmente desconfiados, espalharam a notícia, sem ter um momento de reflexão crítica. Coincidentemente, alguns países emergentes, como o Peru este ano, cujo o candidato Virgilio Martinez, Chef do Central, em Lima, classificado 4º melhor restaurante do mundo, passaram acordos comerciais com a agência responsável pela comunicação de "Fifty Best". 


O que é mau, não é o conteúdo de certos pratos, mas a cobardia de certas instituições mediáticas ou industriais, com o Michelin em mente, que continuam a glorificar químicos nocivos que enviam seus clientes para o hospital e participam no desmantelamento do património culinário mundial. Se Paul Bocusse, para não falar em José Avillez enviasse dez clientes para o Hospital por intoxicação, a sua estrela teria morrido para sempre. 

domingo, 7 de junho de 2015

Summer dressing in the city


O Minho da minha infância


Tento exercitar a minha memória.

Procuro reminiscências da minha infância. Natais, aniversários, férias grandes (assim  se chamavam quando era menina, tão longas eram).

Tendo nascido na cidade, não guardo memórias de festejos, que não sejam circunscritos ao meu universo infantil, da casa de dois pisos onde sempre vivi, com jardim à volta, mas tudo num registo muito urbano. Dir-se-ia, ter nascido e vivido para ser uma menina da cidade, pouco identificada com vivências campestres, não tendo portanto festejos que me levassem às vindimas, colheitas, matanças de porco e por aí fora. 

Apesar desta vivência muito citadina, recordo com saudade as férias de família que o meu pai organizava, sempre sob protesto, achando um luxo a despropósito um chefe de família roubar dias ao trabalho para descansar. A minha mãe, no entanto, batia o pé, levava sempre a água ao seu moinho e acabávamos sempre por partir. Já que íamos, pensava o meu pai, melhor que para destinos que valessem a pena.

Invariavelmente, rumávamos ao norte, e deixávamos Lisboa para trás enfrentando a  N1, já que , há uma vida atrás, auto-estradas e scuts era coisa de ficção científica.

O meu pai amava o Minho. Não tendo nascido por aqui, viveu a sua primeira infância numa aldeia próximo de Monção, e era vê-lo renascer cada vez que se aproximava destas terras.

Aprendi a amar o Minho com ele. Desde as paisagens verdejantes, ao cursos de água fresca que encontrávamos na beira da estrada, passando pelos piqueniques meticulosamente preparados pela minha mãe, tudo é saudade. E ele encontrava em cada curva da estrada, em cada pequena aldeia, motivos para celebrar.

Havia peregrinações obrigatórias - ir à capela da aldeia de Cortes, onde já não havia vestígios da família entretanto desaparecida, mas cheirava-se o rio Minho e viamo-mos ao espelho, no espelhado das suas águas.

O arroz de serrabulho em Ponte de Lima, as trutas de Paredes de Coura, as festas de senhora da Agonia em Viana do Castelo, o cheiro a maresia e água gelada, efeitos da brisa e do nevoeiro na praia de Moledo, faziam parte.

Nunca perdi este amor ao Minho, e é também por cá que me sinto em casa.

Há umas décadas atrás, quis a vida que viesse a fixar residência no Porto.Aproximei-me do Minho do meu pai, passei férias em casa alugada durante anos e apresentei o Minho aos membros da minha família, que com raízes na Beira, desconheciam estas paragens.

Apaixoná-mo-nos todos por estas paragens e embarcámos numa  pequena grande  aventura - construir aqui um refúgio, para passar as férias, os fins de semana, quem sabe viver, um dia que as obrigações profissionais deixassem de nos ocupar.



Esta vivência rural, desperta um sentimento de  maior proximidade às coisas da terra. O ciclo das estações, passam a fazer-se porque as folhas amarelecem, caem e as árvores florescem. Há a época das favas, das cerejas, das castanhas, e por aí fora.A consciência das estações do ano forma-se com as coisas que importam.

Ora pensem! Para quem vive na cidade, as estações do ano são marcadas por episódios do quotidiana como sejam, o começo dos anos escolares, as luzes e enfeites de Natal nas montras das lojas. Há a época em que se muda o guarda fato, em que se compram as botas quentinhas para o inverno e os fatos de banho para ir à praia. No limite dá-se conta que chegou a primavera porque aparecem as primeiras cerejas e o outono é anunciado pelos vendedores de castanhas.

O Minho não me desilude e não pára de me surpreender. Sobrevive, pese embora algumas "catástrofes arquitectónicas" como referia um amigo arquitecto e minhoto.

Recordo sempre a conversa tida numa ocasião, em círculo de amigos em que alguém com raízes no Douro me dizia: "Adoro o Douro, mas o Minho!... Se tivesse que os comparar diria que o Douro é masculino, e o Minho é o feminino que lhe faz a corte..."

Bendigo as vivências simples que os meus pais me proporcionaram, bendigo a paixão pelo Minho que consegui transmitir à minha família, e sei que os meus pais ficariam felizes se soubessem que a filha continua a fazer a corte ao Minho.

Eles estão cá, eu sei

quarta-feira, 3 de junho de 2015

David Cameron - Britain & Europe


Na narrativa de Bruxelas a palavra mais utilizada é reforma. Só que cada país tem a sua própria interpretação de reforma. Para um dirigente político alemão, reformar significa proceder a mudanças estruturais e equilibrar as contas públicas para serem mais competitivos. Para um Francês um Italiano, quer dizer maior despesa pública e políticas orientadas à criação de empregos. Em Portugal significa aumento da receita por via de impostos e corte na despesa nos salários e pensões pagas pelo estado, com vista a reduzir o déficit a zero. Para David Cameron, evidentemente, reformar a União Europeia (UE) passa por um novo contracto para o Reino Unido. A reforma, para ele, quer dizer reconhecimento da excepção britânica na Europa. 

Na discussão sobre a renegociação, a tónica foi posta até agora sobre a eventualidade da modificação dos tratados, termos de adesão do Reino Unido à UE e as consequências jurídicas duma mudança. Mas David Cameron tem sido voluntariamente vago, tentando de saber o que os outros  - por outros ele entende essencialmente Angela Merkel - estão prontos a ceder. Mas este caminho será difícil e lento já que os dirigentes da zona euro estão profundamente irritados com as “lições” dadas por David Cameron e David Osborne, o seu ministro dos negócios estrangeiros.


Idealmente, o primeiro ministro britânico queria obter o direito de veto para a Câmara dos Comuns sobre a legislação europeia. As probabilidades de conseguir esta pretensão, são muito reduzidas para não dizer impossíveis. Não obstante eu achar que pode fazer sentido para certas normas europeias, teríamos 27 países a quererem o mesmo e a UE correria o risco de ficar paralisada. Também pretende retirar do tratado, ou pelo menos isentar o Reino Unido, da cláusula que prevê: “uma união cada vez mais estreita” - um manifesto federalista, aos olhos dos euro cépticos.

A imigração e a liberdade de circulação são as principais e crucias reivindicações de David Cameron, o seu governo busca o meio legal de limitar as prestações sociais que podem beneficiar os cidadãos vindos da EU para o Reino Unido. Sobre este assunto produziu-se uma importante evolução. Até ao passado mês de Novembro, Durão Barroso, rejeitava os argumentos sobre o “turismo social”. Mas o discurso mudou com Jean-Claude Junker, que não obstante considerar a livre circulação como sacro-santa, esta não pode servir de pretexto aos abusos com os benefícios sociais. Não foram os factos que mudaram, já que eles são obstinados, foi a política. David Cameron pode portanto ter alguns graus de liberdade, e avançar com restrições ao pagamento de subsídios de renda para desempregados aos migrantes da UE, bem como as compensações sociais para os salários mais baixos. O primeiro-ministro britânico fala de quatro anos.

Certo é que vai encontrar resistência. Os cidadãos europeus devem ter os mesmos direitos em todos os estados membros. Uma medida destas seria considerada descriminatória e criaria duas categorias de cidadãos europeus. Por outro lado, deverá haver um certo grau de reciprocidade. Ora, cerca de dois milhões de britânicos vivem em outros países da EU; dezenas de milhares deles beneficiam de prestações sociais nos seus países de acolhimento.  

Neste momento na Europa há uma negociação de 18 contra 1, os da zona euro contra a Grécia. E esta negociação vai de mal a pior, com cada vez maior probabilidade da saída da Grécia do euro. Se David Cameron no final se encontrar sozinho face a 27, será uma má estratégia, talvez prenunciando um mau final. E ninguém na Europa quer, porque todo mundo sabe que o "Brexit" será muito pior do que o "Grexit".

terça-feira, 2 de junho de 2015

"Fake watches are for fake people"


Para a indústria Suíça de relojoaria, o mercado das réplicas de relógios tem um custo anual de biliões de dólares, não obstante os esforços feitos para confiscar relógios falsos e destruí-los às vezes de forma espectacular . Um dos meus exemplos favoritos é o de 2010 quando 7 000 Rolex falsos foram esmagados por um Caterpillar em frente às câmaras de televisão e o culpado enviado seis meses para a cadeia. À maioria da contrafacção não é dado este tratamento. Esta “performance teatral” foi ordenada pelo fabricante de relógios em causa, que trabalhou em colaboração com as autoridades aduaneiras. 

Há alguns anos atrás um consórcio de marcas da indústria relojoeira Suíça, designada por Fondation de la Haute Horlogerie (FHH) avançou com  uma campanha cuja mensagem era Fake Watchers Are For Fake People.” Não creio que esta mensagem soe bem numa audiência anglófona, mas mostrou um sério esforço para induzir as pessoas a comprarem relógios genuínos. 



Um CEO de uma famosa marca relojoeira, falando há tempos para uma ampla audiência, media o sucesso anual do grupo indicando a enorme quantidade de réplicas de relógios com a sua marca apreendidas na fronteira Suíça. Aparentemente, quanto maior for o número de relógios falsos, maior é a popularidade da marca. 

Trabalhando em estreita colaboração com os funcionários aduaneiros nos principais mercados, a indústria do luxo não desempenha um grande papel no sucesso da apreensão de produtos falsificados. Embora, muitas o façam através de mercado. É simplesmente muito difícil apanhá-los a todos. A indústria de relojoaria, investe mais dinheiro no marketing dos seus produtos, em ordem a aumentar a sua notoriedade e, assim, aumentar a procura. 

Dito isto, por natureza, os bens de luxo são apenas isso e o seu preço pode ser fixado o fora do que a maioria das pessoas pode pagar.

A indústria de réplica de relógios é uma tangente natural de um mercado para os itens que são inacessíveis para a maioria das pessoas. Existem relógios falsificados para satisfazer os desejos de pessoas que não podem pagar “o genuíno", mas pretendem usar os mesmos símbolos de status do aqueles que podem.

Se caminhar por algumas ruas específicas de grandes cidades como Nova York, Hong Kong, Tóquio, e Lisboa não foge à regra, pode encontrar réplicas de relógios, óculos, malas, etc. para consumidores que procuram estes produtos. 

Quando por razões profissionais passei uma temporada em São Paulo, por indicação de colegas de trabalho, fui visitar um espaço em plena Av. Paulista, onde só se vendem falsificações. De relógios a malas de todas as marcas mais caras. Lembro-me de ter ficado fascinado com um relógio Montblanc dentro do seu estojo. O conjunto numa loja da marca para um cliente distraído poderia passar como genuíno. Segundo me disseram havia um dia por semana em que o espaço estava fechado, que correspondia ao dia da rusga da polícia...


Existe um sentimento de receio quase generalizado entre os consumidores que procuram relógios verdadeiros nas lojas legítimas, de comprarem gato por lebre, mas as probabilidades de comprar um relógio falso numa destas lojas, é muito reduzida, segundo os fabricantes. Relógios falsificados são encontrados em lugares onde se espera encontrar um relógio falso.

Os fabricantes de relógios, surpreendentemente, não tem propriedade intelectual sobre a concepção de seus relógios. Enquanto os projetos são algo que se pode proteger, coisas que são "funcionais" precisam ser protegidas por patentes, e não por direitos autorais. Patentes depositadas há muito tempo, já expiraram, e copia-se muito entre marcas. Portanto nada é "original" actualmente. O que as marcas podem proteger, porém, é seu nome e logotipo. Aquelas que estão sob proteção de marcas, não podem ser copiadas legalmente. Então, o que os falsificadores estão realmente a fazer é copiar ilegalmente um nome e logotipo, bem como outros elementos trademarked que são projetados para dizer às pessoas quem fez o relógio.

O número de elementos de um qualquer relógio que pode ser copiado legalmente é surpreendentemente numeroso. É por isso que até mesmo marcas legítimas se "lisonjeiam" umas às outras copiando elementos de design.

É verdade que muitas pessoas não sabem muito bem porque os relógios falsificados podem ser ilegais, ou que são mesmo ilegais. O problema com a campanha de “Fake Watchers Are For Fake People." da FHH é que a mensagem distorce totalmente o que está errado com relógios falsificados. Comprar relógios falsificados é uma má decisão, porque são ilegais e porque eles são geralmente uma porcaria. Há vidas mais baratas mas não compensam…