terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A ameaça dos “cidadãos muçulmanos radicalizados"


Tenho seguido a serie Homeland e não obstante alguma ficção das temporadas anteriores, ela é muito actual, em particular esta última temporada passada na Europa, onde, entre outras coisas, se retrata a realidade da radicalização dos jovens alemães, muçulmanos de origem árabe.

No seguimento do sucedido em Paris a 13 de Novembro, salta à vista que a maior ameaça terrorista para as cidades europeias e americanas vem de cidadãos muçulmanos radicalizados. O Estado Islâmico precisa ser derrotado e eliminado do planeta Terra, mas o principal esforço deve ser feito pelos sistemas de informação e na troca de de informação entre eles. As agências de informação francesas e belgas parecem ter sido apanhados descalças. É necessário um seguimento muito mais apertado das mesquitas, centros comunitários muçulmanos e redes de doadores. Se isso requer a suspensão de algumas das nossas liberdades civis, este comprimido mesmo que amargo, deve ser tomado.

Formei melhor os meus pontos de vista sobre religião muçulmana e, especialmente, sobre o fundamentalismo religioso, pelo que aconteceu no 11 de Setembro , e na leitura de “The Looming Tower: Al-Qaeda and the Road to 9/11” de Lawrence Wright (em Português A Torre do Desassossego). Com os últimos acontecimentos de  Paris, repete-se novamente o sentimento de choque, trazendo de volta à memória sensações de perda e tristeza.

Precisamos de serviços de informação mais focados, e não de espionagem generalizada, do Joaquim canalizador à Angela Merkel. Temos de concentrar a nossa atenção sobre os inimigos reais, e não aqueles imaginários como os cidadãos comuns europeus ou americanos, ou países aliados. As mentiras, as escutas excessivamente amplas, e as guerras em lugares errados têm ajudado chegar onde agora estamos.

Precisamos de avaliar honestamente os nosso erros, de modo a evitar que eles se repitam sucessivamente. Ao bombardear uma cidade, estamos a criar uma unidade de recrutamento. Quando alvejamos os líderes, estamos a fazer um favor a todos.

Eu tento reagir a estes acontecimentos usando a lógica e o pensamento racional em lugar das emoções. Entendo isto: - se alguém nos atacar e nos magoar seriamente, a primeira reacção é de dar troco com mais força. É normal. Mas não creio ser uma boa ideia ideia, que os Estados ajam debaixo deste tipo de sentimento.

"Os medíocres contra Pacheco"

"O novo ministro da Cultura, João Soares, convidou José Pacheco Pereira para a administração da Fundação de Serralves. Mal se soube da notícia armou-se o salsifré habitual, típico dos invejosos e dos medíocres. Que não há almoços grátis disseram alguns aludindo ao facto de Pacheco Pereira ter sido dos críticos mais ferozes do anterior governo PSD-CDS e que agora tinha chegado o momento de "pagar o frete". Que o historiador e colunista é igual a todos os outros políticos e que não resiste a "comer da gamela do Estado" disseram outros desprezando, por ignorância ou má-fé, que Pacheco Pereira só aceitou esta nomeação porque se trata de um cargo não remunerado e sem prebendas. E houve até quem, entre os seus companheiros de partido, se apressasse a interpor uma ação disciplinar contra ele com vista à sua expulsão do PSD. De facto, os partidos portugueses convivem pessimamente com os espíritos livres e com todos os que pensam pela própria cabeça. É certo que têm de existir regras de militância e que o seu não cumprimento deve prever a aplicação de sanções. Mas nenhum democrata pode subscrever a punição de quem quer que seja por delito de opinião. Pacheco Pereira tem, obviamente, mais do que currículo e qualificação para a função que agora aceitou e para a qual foi convidado. Estranho é que só agora se tenham lembrado dele para integrar a administração de uma fundação com as características da de Serralves, mesmo que seja para um lugar não executivo. Intelectual, investigador, historiador, arquivista, Pacheco Pereira não corresponde ao perfil das clientelas ignorantes que os partidos servem oferecendo-lhes, não raras vezes, lugares de gestão ou administração mesmo que não tenham qualidade ou sequer dimensão para arrumar gavetas. Além disso, o ex-líder parlamentar do PSD é alguém maior do que o partido a que pertence e que não precisa de favores ou benesses de quem quer que seja para se afirmar. Acresce que não é a primeira vez que Pacheco Pereira revela desprendimento ou desapego. Em 2004, poucos dias antes de Durão Barroso ter decidido emigrar para Bruxelas, Pacheco tinha aceite o convite do então chefe do governo para o mais disputado lugar da diplomacia portuguesa, o de embaixador na UNESCO. Porém, mal se soube que Santana Lopes iria ser primeiro-ministro, Pacheco apressou-se a comunicar a sua indisponibilidade recusando as mordomias de um palacete em Paris. Podemos discordar, e eu sou dos que discordam, que haja quem abdique de ser remunerado pelo exercício de funções públicas. Acredito, sinceramente, que o não pagamento de uma retribuição ou salário diminui a capacidade e o poder da obrigatória sindicância. Mas o que é intolerável é que se veja nesta nomeação um agradecimento por serviços prestados. Quem assim pensa e o diz sem pudor só pode ser medíocre ou invejoso."

Nuno Saraiva in Diário de Notícias, 15-12-2015

sábado, 12 de dezembro de 2015

You are welcome to Elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos a morte      violar-nos     tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas      portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O esvaziamento da classe média nos EUA


A classe média americana deixou de ser a maioria da população dos EUA, de acordo com um novo relatório do Pew Research Center.

O estudo, baseado numa análise de dados do governo americano, utiliza uma definição geralmente aceite de "rendimento médio" dos americanos cujos os rendimentos anuais se situem entre dois terços e o dobro da média nacional - ou de cerca de $46.000 a $126.000. Sob esta definição, a classe média pesa 50% da população adulta dos EUA, abaixo dos 61% de 1971.

É isto importante? O relatório mostra que as percentagens de adultos dos agregados familiares com rendimentos superiores e inferiores têm crescido desde 1971, mas o nível superior cresceu mais rapidamente - um sinal de progresso económico. Além disso, o rendimento médio das famílias aumentou para todos os grupos, embora mais rapidamente na parte superior e mais lentamente na parte inferior.

Mas o esvaziamento da classe média marca certamente uma alteração da natureza da sociedade americana. O Pew Research têm por norma de ficar fora de qualquer debate político ou emitir juízos neste âmbito, cumprindo escrupulosamente estas normas, evitando discussões sobre as causas ou as consequências políticas prováveis desta tendência, porém o relatório não deixa de concluir  que a queda da classe média abaixo do limiar dos 50% poderá marcar um “tipping point" para os EUA.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Da corrida popular ao desporto de massas




Ao longo das últimas duas décadas o acto de correr voluntariamente longas distâncias passou de um curiosos passatempo de alguns viciados do fitness, como eu, para um fenómeno nacional. 

Recordo-me das minhas corridas pela marginal até ao Douro no início dos anos 90, nos dias ensolarados em que me cruzava com uma multidão de pessoas a passear, desfrutando do Sol e da bonita vista do Atlântico até à Foz e da margem norte do Douro. No início dos anos 2000 houve a febre das bicicletas. Foi nessa época que nasceram as ciclovias, que hoje estão generalizadas pela cidade e arredores. 

Quando corria tinha que estar atento aos ciclistas que tomaram conta dos passeios e aos transeuntes, muitas vezes em rota de colisão comigo. Hoje em dia os corredores enxameiam. Usam cores garridas, headphones, monitores de frequência cardíaca com GPS, fitas na cabeça, bonés, calções, camisolas técnicas e sapatilhas de marca que alegam uma absorção do impacto e outras funcionalidades positivas para que corre.  Uma grande evolução a favor de uma vida mais saudável.

Para termos uma idea da dimensão que a corrida tem nos EUA, em 2014, de acordo com o Running USA, 18.75 milhões de americanos terminaram uma corrida de estrada, e 550.637 acabaram uma maratona, o maior desafio de um corredor, contra 25.000 em 1976. Realizaram-se 1.200 maratonas em 2014, quatro vezes o número de 2000. O crescimento das meias-maratonas e corridas de 5K foi ainda mais rápido.

Em Portugal estima-se em 1,45 milhões o número de corredores, dos quais 460.000 correm regularmente, não existindo dados sobre o número de provas organizadas por ano. É assim o quarto desporto em número de praticantes.

Com a época das corridas de longa distância a atingirem pousio, este desporto está a ser olhado mais que nunca pelas grandes companhias. Estimativas da IBISWorld citadas pela revista Fortune, a organização de corridas de estrada vale nos EUA qualquer coisa como $ 1,4 biliões (vendas de sapatilhas não incluídas), com os organizadores das corridas e patrocinadores cada vez mais a reclamar por uma fatia do crescente bolo do mundo dos desportos participativos.

Mesmo Richard Branson está nele, e no início deste ano, recrutou Mary Wittenberg, ex-CEO do New York Road Runners, o organizador (sem fins lucrativos) da maior maratona do mundo (NYCM), para a Virgin Sport, um novo empreendimento para eventos desportivos de massa, incluindo as corridas de rua.

A Virgin junta-se ao Competitor Group já estabelecido, que está expandindo o seu Rock 'n' Roll com uma série de corridas de estrada. Entretanto o Competitor, com receitas de $116 milhões foi comprado pelo private equity Calera Capital por um valor estimado em $ 250 Milhões em 2012. Rock 'n' Roll organizou a sua primeira corrida em Brooklyn, uma meia-maratona no passado dia 8 Outubro. 

Este negócio, soma e segue, e prova disto foi dada em Agosto, quando o Providence Equity Partners vendeu a Ironman Series à a China Dalian Wanda Group por $650 milhões, supostamente rentabilizando o seu investimento inicial em quatro vezes.

Para os patrocinadores, a corrida mantém um apelo único. Rico Harshbarger, CEO da Runners USA, afirma que os maratonistas - dedicados por natureza - tornam-se clientes fiéis em particular para as marcas que suportam o seu desporto. 

O perfil do corredor de estrada mudou muito. Na primeira prova que fiz (Meia-Maratona de Ovar) fui acompanhado por um operário da Fábrica que eu dirigia à época. E posso arriscar que 99% dos corredores do início dos anos 90 tinham rendimentos baixos, e a corrida era um desporto popular em que às sapatilhas baratas era necessário juntar uns calções e uma camisola de alças.  

Nos dias de hoje, segundo um estudo realizado pelo IPAM em 2014, o rendimento, dos corredores de estrada situa-se entre os $21.000 a $42.000 e 44% são licenciados. Nos EUA o rendimento médio de um corredor é $112.000, e pelo menos 79% são licenciados.

A participação nas corridas de longa distância não está crescer ao ritmo do passado recente, e actualmente muitos dos eventos são de pequena participação para chamar a atenção de grandes anunciantes, especialmente para corridas pontuais. "É realmente difícil conseguir patrocínio para apenas um dia", diz Wittenberg. Patrocinadores pretendem um circuito. Isso levou grupos como o Competitor a comprar a organização de corridas de média dimensão já existentes de 5.000 a 10.000 corredores, com planos para mudar o seu nome (rebrand), usando as suas competências logísticas para as melhorar. Dessa forma, não só os organizadores da corridas beneficiam de economias de escala, mas eles podem vender patrocínios numa escala superior e em bulk.

Não é por acaso que na República Checa as corridas de estrada mais importantes são organizadas num circuito por um único organizador a Run Czech o que permite garantir patrocinadores para uma ou mais temporadas.

Nem todo mundo ama a racionalização, mas a entrada dos big players pode vir a ter um efeito democratizante. Mais organizadores estão a concentrar-se em corridas mais fáceis como 5Ks, que estão a crescer de forma particularmente rápida.

Claro que, a maioria das corridas ainda serão de uma pequena dimensão organizadas por voluntários. Numa manhã de Outubro o director da prova Freedom's Run, Dr. Mark Cucuzzella deu pessoalmente instruções aos corredores da maratona, uma corrida onde acabam 340 corredores em West Virginia. Ele não faz muito dinheiro, diz ele, mas nem tudo tem que dar dinheiro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Forlig

A palavra dinamarquesa que define os compromissos entre partidos em questões fundamentais, que tanto tanto podem ser na educação, na saúde ou na defesa. O forlig é um instrumento que protege as áreas estratégicas da sociedade dinamarquesa das derivas ideológicas nas diversas legislaturas. Os governos, independentemente da cor política, sabem que há uma carta de intenções aceite por todos os partidos e que baliza a sua actuação nessas áreas. Apesar de existirem mecanismos que permitem alterar esses compromissos eles estão bem definidos dentro de regras aceites por todos. Quando se fala em governos minoritários e acordos partidários, muitos deles de legitimidade duvidosa, nada mais transparente do que um acordo que compromete todos de igual forma no rumo do País. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

"The art of conversation - Chattering classes"

The rules for verbal exchanges are surprisingly enduring


SIR ISAIAH BERLIN, a Latvian-born Oxford philosopher who died in 1997, may well have ranked among the greatet conversationalists who ever lived. According to Robert Darnton, a Princeton historian, Berlin's friends would “watch him as if he were a trapeze artist, soaring through every imaginable subject, spinning, flipping, hanging by his heels and without a touch of showmanship”. Darnton reckoned that Berlin's only match in relatively modern times might have been Denis Diderot, an 18th-century French Enlightenment philosopher. By one account Diderot's conversation was “enlivened by absolute sincerity, subtle without obscurity, varied in its forms, dazzling in its flights of imagination, fertile in ideas and in its capacity to inspire ideas in others. One let oneself drift along with it for hours at a time, as if one were gliding down a fresh and limpid river, whose banks were adorned with rich estates and beautiful houses.”

Churchill was another magnificent talker, perhaps the greatest of the 20th century, but often a poor listener. Virginia Woolf was given, in the words of one biographer, to “wonderful performances in conversation, spinning off into fantastic fabrications while everyone sat around and, as it were, applauded”. A short list of the greatest living conversationalists in English would probably have to include Christopher Hitchens, Sir Patrick Leigh Fermor, Sir Tom Stoppard, Studs Terkel and Gore Vidal.

Great brilliance, fantastic powers of recall and quick wit are clearly valuable in sustaining conversation at these cosmic levels. Charm may be helpful too—although Samuel Johnson, one of the most admired conversationalists of 18th-century England, seemed to manage without much of it. For those of more modest accomplishments, but attached to conversation as one of life's pleasures and necessary skills, there is a lively market in manuals and tip-sheets going back almost 500 years, and a legacy of wisdom with an even longer history. One striking thing about the advice is how consistent it remains over time, suggesting that there are real rights and wrongs in conversation, not just local conventions.

The principle that it is rude to interrupt another speaker goes back at least to Cicero, writing in 44BC, who said that good conversation required “alternation” among participants. In his essay “On Duties”, Cicero remarked that nobody, to his knowledge, had yet set down the rules for ordinary conversation, though many had done so for public speaking. He had a shot at it himself, and quickly arrived at the sort of list that self-help authors have been echoing ever since. The rules we learn from Cicero are these: speak clearly; speak easily but not too much, especially when others want their turn; do not interrupt; be courteous; deal seriously with serious matters and gracefully with lighter ones; never criticise people behind their backs; stick to subjects of general interest; do not talk about yourself; and, above all, never lose your temper.

Probably only two cardinal rules were lacking from Cicero's list: remember people's names, and be a good listener. Each of these pieces of advice also has a long pedigree. At a pinch you might trace the point about names back to Plato. Both found a persuasive modern advocate in Dale Carnegie, a teacher of public speaking who decided in 1936 that Americans needed educating more broadly in “the fine art of getting along”. His book “How to Win Friends and Influence People” is still in print 70 years later and has sold 15m copies. To remember names, and to listen well, are two of Carnegie's “six ways to make people like you”. The others are to become genuinely interested in other people; smile; talk in terms of the other person's interests; and make the other person feel important.

Cicero's rules of conversation seem to have been fairly common across cultures as well as time, if varying in strictness. It might reasonably be said that Italians are more tolerant of interruption, Americans of contradiction and the English of formality, for example. These rules of conversation also intersect with those of politeness more generally, as formulated by two American linguists, Penelope Brown and Steven Levinson, the pioneers of “politeness theory”.

Courtesy counts

The Brown and Levinson model says, roughly speaking, that Person A probably does not want to be rude to Person B, but in the way of things, life may sometimes require Person A to contradict or intrude on Person B, and when that happens, Person A has a range of “politeness strategies” to draw on. There are four main possibilities, given in ascending order of politeness. The first is a “bald, on-record” approach: “I'm going to shut the window.” The second is positive politeness, or a show of respect: “I'm going to shut the window, is that OK?” The third is negative politeness, which presumes that the request will be an intrusion or an inconvenience: “I'm sorry to disturb you, but I want to shut the window.” The fourth is an indirect strategy which does not insist on a course of action at all: “Gosh, it's cold in here.”

The first three of those options are plain instrumental speech, and are the sort of approaches that the conversation manuals warn you against. The fourth one alone leads into the realm of conversation as such. Here the purpose of speaking is not so much to get a point across, more to find out what others think about it. This principle of co-operation is one of the things that sets conversation apart from other superficially similar activities such as lectures, debates, arguments and meetings. Other qualities which help to define conversation include the equal distribution of speaker rights; mutual respect among speakers; spontaneity and informality; and a non-businesslike ambience. The last of these was well caught by Johnson when he defined conversation as “talk beyond that which is necessary to the purposes of actual business”.

If conversation, and politeness, do have common features across time and culture, it is not all that surprising that newer manuals will find little to add in terms of fundamental principles. They can, however, offer specific tips which are useful in the right circumstances, and these, too, change little with the years. “Never recount your dreams in public,” wrote the anonymous author of “Maximes de la Bienséance en la Conversation”, one of the first manuals of conversation published in France, in 1618. Margaret Shepherd, author of “The Art of Civilized Conversation”, a manual published in America in 2006, offers the same prohibition. Among the ill-judged remarks that she calls “saboteurs of small talk”, she includes “self-absorbed comments like ‘I had the strangest dream. You were in it. Uh, let me try to remember it'.”

The more modern the manual of conversation, the more concrete its advice is likely to be. Ms Shepherd offers seven quick ways to tell if you are boring your listeners, which include: “Never speak uninterrupted for more than four minutes at a time” and “If you are the only person who still has a plate full of food, stop talking.” Her checklist of things best not said to the parent of a newborn baby should be memorised for future use. It comprises: “What's wrong with his nose?” “Should he be that colour?” “Isn't he awfully small?” “Shouldn't you be breast-feeding?” “Did you want a boy?” “Is he a good baby?” “He looks like Churchill!/She looks like ET!” “It's really cute!”

It is easy enough to see the usefulness of such tips, but they capture none of the joy which comes from the mastery of conversation. For enthusiasts conversation is an art, one of the great pleasures of life, even the basis of civilised society. Mme de Staël, a great talker and intellectual of the French ancien régime, called conversation “a means of reciprocally and rapidly giving one another pleasure; of speaking just as quickly as one thinks; of spontaneously enjoying one's self; of being applauded without working...[A] sort of electricity that causes sparks to fly, and that relieves some people of the burden of their excess vivacity and awakens others from a state of painful apathy”.

The Athens of Socrates and Plato, in the 5th and 4th centuries BC, is often seen as home to a first golden age of conversation. That view has relied mainly on the writings of Plato, whose dialogues, often with Socrates as speaker, constitute “a search among friends...for the divine ideas of the true, the beautiful, the good”, says a modern French scholar, Marc Fumaroli.

The second golden age of conversation, among the French elites in the late 17th and early 18th centuries, is much better documented. Historians associate the rise of conversation at this time with the prestige enjoyed by women in French high society, which was perhaps unique in Europe before or since. Women ran the salons where the culture of the time was created, and their presence civilised the men they invited there. Another factor was the leisure forced on the French aristocracy by an absolute monarchy. Their political ambitions thwarted, the upper classes turned their energies towards entertaining themselves. A man without conversation was liable to find himself devalued, whatever his other qualities: “In England it was enough that Newton was the greatest mathematician of the century,” wrote Jean d'Alembert, a French philosopher and mathematician; “in France he would have been expected to be agreeable too.”

The conversation of the French salons and dinner tables became as stylised as a ballet. The basic skills brought to the table were expected to include politesse (sincere good manners), esprit (wit), galanterie (gallantry), complaisance (obligingness), enjouement (cheerfulness) and flatterie. More specific techniques would be required as the conversation took flight. A comic mood would require displays of raillerie (playful teasing), plaisanterie (joking), bons mots (epigrams), traits and pointes (rhetorical figures involving “subtle, unexpected wit”, according to Benedetta Craveri, a historian of the period), and, later, persiflage (mocking under the guise of praising). Even silences had to be finely judged. The Duc de La Rochefoucauld distinguished between an “eloquent” silence, a “mocking” silence and a “respectful” silence. The mastery of such “airs and tones”, he said, was “granted to few”.

Conversation was also flourishing across the channel in the early 18th century, but for a different reason. This was the golden age of the British coffee house. Whereas the French salon excluded politics from polite conversation, in the British coffee house politics was a main preoccupation. Foreign visitors remarked both on the free range of speech there and on the mingling of classes and professions. A modern German sociologist, Jürgen Habermas, linked the coffee houses with what he called the “rise of a public space” outside the control of the state, or, as we might say now, civil society.

But if British liberals were keen on free speech, they were much less preoccupied than their French contemporaries were with its forms and flourishes. Dr Johnson was considered so great a talker that a contemporary compared his conversation to Titian's painting. But he also could sit stonily silent through a dinner that bored him, or contradict and interrupt in defiance of all common etiquette. Even Boswell, his devoted note-taker, acknowledged his “dogmatic roughness of manner”.

Strong and silent

Johnson was far from the only Englishman to have matched a love of conversation with a reputation for occasional difficult silences. As he himself said: “A Frenchman must always be talking, whether he knows anything of the matter or not; an Englishman is content when he has nothing to say.” In his book “Democracy in America”, Alexis de Tocqueville refers to the “strange unsociability and reserved and taciturn disposition of the English”. But for Charles Dickens, another foreign visitor to America in the 19th century, it was the Americans who seemed taciturn. He blamed this on a “love of trade”, which limited men's interests and made them reluctant to volunteer information for fear of tipping their hand to a competitor. The idealisation of silence remained strong in American culture into the 20th century: think of the laconic heroes of Western films, or of Hemingway's novels.

More recently it has been neither trade nor taciturnity, but the distractions of technology, which have seemed to threaten the quality of conversation. George Orwell complained in 1946 that “in very many English homes the radio is literally never turned off. This is done with a definite purpose. The music prevents the conversation from becoming serious or even coherent.” The television attracted similar comment when it became commonplace two decades later.

In 2006 an American essayist, Stephen Miller, published a book called “Conversation: A History of a Declining Art”, in which he worried that “neither digital music players nor computers were invented to help people avoid real conversation, but they have that effect.” A reviewer of Mr Miller's book found it “striking” that past generations would “speak of conversation as a way of taking pleasure, much as a modern American might speak of an evening spent browsing the internet”.

Conversation has survived worse challenges (Johnson thought it might be killed by a return of religious zealotry), and it will doubtless survive more. For evidence that it thrives still, go into any smart New York restaurant, where the noise level will be deafening. Or go into a Barnes & Noble or Borders bookshop and look at the shelves of manuals on how to talk better. Most of them are aimed at people who want to talk more persuasively and engagingly in order to get on in their careers, not at people who want to engage in conversation for the sheer pleasure it affords. But these motivations are far from exclusive. Making friends and influencing people, to borrow the language of Dale Carnegie, amount in the end to much the same thing. Both of them require charm, courtesy and the desire to understand the ideas and opinions of others. And whatever the strategic objective, those will never be bad tactics."

In The Economist, Dec 19th 2006

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O Libertador da Pátria




"No Primeiro de Dezembro vale bem a pena recordar um dos maiores portugueses de sempre, que dedicou a vida à restauração da independência de Portugal, hoje celebrada.

D. António Luís de Meneses, 3º Conde de Cantanhede, nasceu ainda no final do século XVI em data que não se pode precisar. Participou activamente na conjura contra o domínio espanhol e em 1 de Dezembro de 1640 ajudou a tomar de assalto o Paço da Ribeira e a expulsar a Duquesa de Mântua, que governava Portugal em nome de Felipe IV. Nesse mesmo dia, após a aclamação de el-rei D. João IV, o Conde foi nomeado coronel das tropas restauradoras.

Criou em Coimbra um regimento com 1660 homens, que ficou famoso pela bravura e eficácia nos incessantes confrontos com os espanhóis ao longo da raia.

A fama não passou despercebida a D. Luisa de Gusmão, a rainha regente por menoridade de D. Afonso VI, que solicitou a sua partida em socorro de Elvas, cercada por um poderoso exército espanhol de 3000 homens comandados pelo general Luis Mendez de Haro. A 14 de Janeiro de 1659 deu-se a grande batalha das linhas de Elvas, durante a qual o Conde de Cantanhede e os seus homens desbarataram por completo as tropas inimigas.

Pelo feito glorioso de Elvas, D. António Luís de Meneses foi agraciado em 1661 com o título de Marquês de Marialva, a que mais tarde seriam acrescentados juro e herdade.

Na sequência de um período de disputa política, el-rei D. Afonso VI e o plenipotenciário Conde de Castelo Melhor substituíram-no no comando do Alentejo pelo Conde de Vila Flor, o mesmo que o Marquês de Marialva libertara do cerco de Elvas. Mas após a tomada de Évora por D. João de Áustria, bastardo de Felipe IV, o Marquês é novamente chamado a combater no Alentejo ao comando de um numeroso exército de voluntários. Consegue recuperar a cidade de Évora com o Conde de Vila Flor e entra pela Extremadura espanhola, conquistando Valência de Alcântara.

Mas o apogeu dos feitos do bravo militar estava ainda para vir. Em Junho de 1665, quando se dirigia para Vila Viçosa, então sitiada pelos espanhóis, tinha à sua espera 15000 infantes e 7600 cavaleiros comandados pelo general Caracena. A grande batalha, uma das maiores da nossa história, deu-se no dia 17, perto de Borba, num lugar chamado Montes Claros. O Marquês de Marialva e o Conde de Schomberg infligem uma pesada derrota ao inimigo que, com o moral destroçado, se vê forçado a solicitar a paz definitiva.

Dom António Luís de Meneses viria ainda a ser um dos principais negociadores do tratado entre Portugal e Espanha, assinado a 13 de Fevereiro de 1668, que pôs termo aos 28 anos da guerra da restauração.


O Libertador da Pátria, como era então chamado, morreu a 16 de Agosto de 1675, com quase 80 anos de idade. Por seu pedido, o corpo foi sepultado em Cantanhede mas o coração ficou no convento de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa, que o próprio Marquês mandara edificar em acção de graças à vitória de Montes Claros. Uns anos mais tarde, el-rei D. Pedro II mandou colocar o nobre coração junto do túmulo de D. João IV, em S. Vicente de Fora."

João Ferreira do Amaral in 31 da Armada em 1.12.2011

Cimeira de Paris

A cimeira de Paris sobre o clima teve início ontem de manhã - uma reunião maciça que inclui 150 chefes de Estado num dos maiores triunfos da história de esperança sobre a experiência. Os compromissos a que se chegarem não ficam perto do regime emissões restritivas prevista em Kyoto em 1997, mas constituirão uma montagem caótica de promessas por parte de países individualmente projetadas principalmente para satisfazer os eleitorados nacionais. Todas juntas somados, não serão suficientes para cumprir a meta, um tanto arbitrária, de impedir um aumento da temperatura do globo em de 2 graus Celsius.

As conversações são apoiadas por um modesto consenso da opinião global. O Centro de Pesquisa Pew encontrou que 54% da população em 40 países acredita que a mudança climática é um "problema muito sério", e 51% crêem que pode "prejudicar as pessoas agora." A preocupação, no entanto, foi menor, nos dois países que mais contribuíram para o problema - a China, onde apenas 18% o classifica como um problema "muito grave", e nos EUA, onde apenas 45% consideram "muito grave". Nos EUA a opinião pública está condicionada pela forte bi-polarização política, que leva a minorias consideráveis ​​da direita a negar que a mudança climática é um problema, enquanto minorias significativas da esquerda pede, na maioria dos casos, soluções irrealistas.

Mas continuo otimista - não com os burocratas em Paris ou Bruxelas mas sim com os empresários que estão dedicando elevadas somas de dinheiro e massa cinzenta para abordar esta questão. Eles vêm um enorme potencial e grandes mudanças no horizonte - seja na tecnologia de baterias que podem armazenar energia, na fusão nuclear, ou em projectos, considerados por alguns como politicamente incorrectos, de geo-engenharia.  É por isso que um dos melhores resultados de Paris pode ser o anunciado esta manhã - um fundo de investigação e desenvolvimento multi-bilionário liderado por Bill Gates. Se a reunião de Paris serviu de gatilho para iniciativas deste tipo com um significativo financiamento em I & D, então terá valido a pena.

Aproveite os últimos dias do ano mais quente já registado.