sexta-feira, 22 de maio de 2015

Moda Responsável II - Tecidos a partir da compostagem


É inquestionável que a indústria téxtil tem um efeito massivo no nosso planeta, muito dele negativo. Desde os direitos dos trabalhadores, fábricas sem as mínimas condições a pesticidas utilizados nas plantações de algodão, os impactos sociais e ambientais são evidentes através de toda a supply chain. Os esforços iniciados como o Better Cotton Initiative começaram a fazer a diferença, mas a indústria tem ainda tem um longo caminho a percorrer. 

Para empresa Suíça, Freitag, porém, não é só uma questão de transformar a manufactura dos tecidos, mas também mudar a forma como eles são descartados - utilizando a compostagem.

Fundada por dois irmãos, Freitag estão neste negócio desde 1993 e empregam cerca de 160 pessoas. A empresa possuiu 10 lojas na Europa central e Japão, e mais de 50 produtos no mercado. Também transforma a lona de camiões em sacos ou mochilas.  A empresa produz, segundo ela, tecidos 100% obtidos por compostagem.

O segredo está na mistura: linho, cânhamo e modal (fibra), que é obtido da celulose a partir de árvores de faia. Este tecido, ou o que Freitag chama F-Fabric, levou cerca de cinco anos a desenvolver. As matérias-primas são todas provenientes da Europa, reduzindo assim as importações a longas distâncias. O algodão é uma fibra natural, mas a Freitag evita-o por várias razões: ele tem que ser importado pois o clima da Europa é muito frio para a cultura do algodão, requer muita água, precisa de uma grande quantidade de espaço, consome montes de pesticidas e, finalmente, a empresa estima que 100 milhões de agricultores de algodão em todo o mundo vivem abaixo do nível de pobreza a trabalhar em condições terríveis. Em vez disso, o linho é proveniente de Normandia, o cânhamo é resiliente em quase todos os climas e a faia auto propaga-se, não sendo necessário um regime de plantio. Não só o tecido é sustentável, mas Freitag descreve-o como verdadeiramente local.

O resultado são tecidos e peças de vestuário que são também biodegradáveis e compostáveis completamente. A única exceção são os botões que sendo de metal apenas precisam ser removidos, ou, na verdade, desenroscados, antes das peças de vestuário serem lançadas para uma pilha de compostagem-e, claro, esses botões podem ser reutilizados. O material é tecido numa sarja quebrada, jérsei, ou espinha de peixe, e também em várias cores. Uma exceção, porém, é o indigo: Freitag encontrou fibras de cânhamo e linho ficam enfraquecidas e rasgadas após o processo de tingimento.

Um dos resultados obtidos são as calças de trabalho chino da Freitag, feitas a partir de tecido de sarja compostável que segundo a empresa é repelente à humidade, antibacteriano e suficientemente robustas para qualquer ambiente de trabalho. Um par destas calças custa actualmente 190 €. Mas a Freitag pode obter economias de escala se mais empresas desenvolverem alternativas mais sustentáveis, para o algodão e materiais sintéticos no mercado, estes tecidos poderiam, eventualmente, tornar o preço competitivo. 

Entre as condições de trabalho em alguns países e a questão da grande industria da moda ser realmente responsável e ética, olhe-se para empresas como a Freitag com mais atenção nos próximos anos.

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