sexta-feira, 29 de maio de 2015

Táxis de Lisboa - uma descida aos infernos

Os últimos três dias passados em Lisboa, por razões profissionais, foram marcados por uma panóplia de sentimentos algo contraditórios. Sendo uma alfacinha de "gema", experimentei um verdadeiro sentimento de pertença ao percorrer as ruas e vielas da baixa lisboeta, lugar onde nasci ( bem perto do Castelo de S. Jorge) e onde vivi até meados da década de oitenta.

As deslocações a Lisboa, sendo frequentes, não deixam muito espaço para o que consegui fazer desta vez; calcorrear as ruas da baixa e beber o ambiente cosmopolita que a cidade tem neste momento. Muitos turistas, muito calor, noites quentes, música e performances de rua. Tudo isto emoldurado pelas maravilhosas colinas de Lisboa, pelo perfume e cores inebriantes dos jacarandás. Dir-se-ia que passei os três últimos dias no paraíso.

Seria até verdade, não fosse ter sido confrontada com uma realidade que tem sido frequentemente abordada em conversas informais com amigos  e mesmo na comunicação social. Falo do serviço de táxis em Lisboa. As deslocações na cidades foram sempre realizadas utilizando este meio de transporte e aconteceu de tudo um pouco:

Experiência 1

Santa Apolónia, 10,40 da manhã e eis que surge o primeiro desafio. Conseguir que um taxista mal humorado, e que utilizava para comunicar algo parecido com um grunhido, não querendo com isto ofender os pobres dos bácoros, animais que fazem parte do meu imaginário e me são particularmente simpáticos. No fundo, que contrariedade para o pobre homem, ter que levar quatro senhoras com bagagem a um destino à distância de dois quarteirões, correspondendo a uma tarifa de pouco mais de 7€. Mas enfim, lá foi, e só faltou "cuspir-nos" para fora do táxi, especialmente contrariado quando lhe pedimos um recibo com número de contribuinte - o cúmulo do descaramento, deverá ter pensado a figura.

Experiência 2

Chiado com destino à Fundação Gulbenkian.  Aqui a coisa correu quase em padrões próximos do que seria de esperar. Leva-nos ao destino e pagamos o serviço. Assim foi, se nos esquecermos dos diversos momentos em que tivemos que fechar literalmente os olhos para não nos arrepiarmos com as manobras dignas do filme " Missão Impossível" que o senhor foi fazendo, com o objectivo de nos fazer chegar rápido ao destino (mas qual das quatro lhe terá pedido pressa?). A única coisa que pretendíamos era de facto chegar ao destino, intactas. Chegámos, com a sensação que foi por pouco que não passámos primeiro pelas urgências do Hospital...

Experiência 3

Rossio com destino à Fundação Gulbenkian.Táxi parado, encostado ao passeio, com o motor desligado. Sim senhora, que estava livre. Entrámos, anunciámos o destino pretendido e aguardámos. Ao fim de um minuto, perguntámos o que se passava afinal, porque não iniciávamos a viagem!

"As senhoras desculpem, mas hoje é o meu primeiro dia, eu estou a ver se descubro aqui no GPS onde fica essa tal de Gulbenkian".
Sendo um jovem simpático e educado, tive " compaixão", ofereci-me para ajudar:
"Ai que alívio! A Senhora sabe onde é? E não se importa de me guiar?"

Trabalhando eu na reabilitação, sendo a minha principal função assistir pessoas na procura de oportunidades de emprego, ajudando-as a vencer os obstáculos que muitas vezes encontram pelo caminho, e estando em Lisboa a assistir a uma conferência exactamente sobre este tema, o que é que me custava fazer mais algum trabalho de campo? Lá fomos nós, divertidas com o jovem taxista, finalmente um taxista simpático e  agradável, cujo único pequeno/grande problema era ter sido contratado para conduzir um táxi velho, com 25 anos de idade, a cair de podre, e cujo principal ponto fraco era ter um desconhecimento total da cidade de Lisboa, agravado pela incapacidade em perceber como funcionava o raio de GPS, que em vez de ajudar só servia para aumentar a sua iliteracia e ansiedade. Divertimo-nos nesta viagem, não tivemos dificuldade com o maldito recibo, recebemos ainda um agradecimento por parte do jovem, que levantou as mãos aos céus por terem aparecidos clientes tão compreensivas e conhecedoras da cidade.

Experiência 4

Rua da Madalena destino Fundação Gulbenkian. Cigarro na boca, sai de má vontade do táxi para abrir a mala do carro. Lá dentro cheiro ao tabaco que acabava de fumar, janelas fechadas, e notícias da TSF, alto e bom som. Lá conseguimos abrir as janelas,respirar mais um pouco do bendito cheiro dos Jacarandás.O primeiro sinal de impaciência surgiu quando o meu telefone tocou e tive que lhe pedir para fazer o favor de baixar o som do rádio. Ao chegar ao destino pergunto quanto devo e enquanto peço o recibo e procuro o dinheiro para pagar, "debito" em automático o número de contribuinte. Cúmulo dos cúmulos! Onde é que já se viu? A primeira coisa a dizer é que se quer um recibo com o número de contribuinte! Toda a gente o sabe, menos eu que incrédula e já irritada com táxis, taxistas e viagens atribuladas, me limitei a repetir o número de contribuinte de forma quase esquizofrénica, até ter a garantia que o mesmo acabaria por ser escrito no maldito papel. Não resisti! Ao sair disse-lhe estar verdadeiramente impressionada com a total ausência de profissionalismo e simpatia dos taxistas de Lisboa. Novo "grunhido" desta vez mais audível, a fazer jus à velha rivalidade entre o norte e o sul: " Pois é, vá lá para o Porto que lá os taxistas são mais simpáticos!"

Experiência 5

Devesas a aguardar a boleia da família. Vejo um jovem cavalheiro a sair de um táxi limpo e arejado, tirar com a ajuda do taxista a mala da bagageira, cumprimentá-lo com um aperto de mão, e prometer que na próxima deslocação ao Porto, espera voltar a encontrá-lo, tão agradável foi a corrida. O taxista responde, amavelmente: " O prazer foi todo meu,muito obrigada e até breve, espero". Palavras para quê? E não se esqueçam que eu não sou suspeita de bairrismo - eu sou Lisboeta.

Depois de tudo isto, resta-me rezar que na minha próxima deslocação a Lisboa, possa utilizar os serviços da UBER. E que os tais senhores da Antral e companhia, continuem a queixar-se de concorrência desleal! Mas que concorrência?  Acaso os serviços prestados são comparáveis?

Não são e ponto.

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