Sharing economy, em inglês. traduz-se dificilmente por “economia da partilha” em Português. E, no entanto, designa bem esta economia, que apesar de entre nós não haver ainda uma designação aceite por todos, alguns chamam de “colaborativa”. Baseia-se na colocação no mercado do uso de um bem que alguém tem a posse. A viatura e a casa são os bens mais caros, propriedade da maoria das pessoas, e foi através da colocação à disposição de veículos e quartos, até mesmo apartamentos inteiros, que a economia colaborativa levantou voo.
Um amplo espectro e contornos fluidos, especialmente quando se trata de quantificar o valor dos bens e serviços trocados, bem como atividade associada criada. Uma coisa é certa, o potencial é visto como enorme. A PriceWaterhouseCoopers realizou uma extensa análise quantitativa que publicou no verão de 2014, sobre o potencial de crescimento deste sector: No quadro da amostra utilizada, inclui-se financiamento participativo (Kickstarter, por exemplo), o "pessoal" online (trabalho temporário à tarefa...), aluguer sazonal (Airbnb, HouseTrip ...), a partilha de carro (BlaBlaCar) e de "streaming" audio e vídeo. A empresa estima em 335,000 biliões de dólares (309 biliões de euros) a dimensão desta economia em 2025, contra 15 biliões hoje.
Bom desempenho para um sector tão jovem, mas cujas bases foram lançadas há muito tempo. Os historiadores da sharing economy encontram as suas origens nos "commons", terras geridas colectivamente na Inglaterra medieval, detidas por senhores feudais, mas que permitiam a qualquer pessoa ajudar a cuidar das terras ficando com parte dos seus frutos. Três séculos após a extinção deste regime, o tema do uso renasce, impulsionado pelas grandes inovações tecnológicas, mas também por um ambiente económico propício à criatividade.
O decréscimo dos preços de acesso à internet e a democratização dos smartphones popularizaram o uso de sites e aplicações para telemóveis, e alguns bens básicos tornaram-se cargas pesadas: O preço do imobiliário experimentou cinco anos de crescimento quase ininterrupto em todos as principais metrópoles do mundo, e a posse de uma viatura, em cidade, tornou-se cara. Neste contexto, a utilização da capacidade pelo seu uso, tornou-se, na década de 2010, mais importante do que a propriedade.
Sites de partilha como o Airbnb, HouseTrip ou Lyft (grande concorrente do Uber nos EUA) permitem gerar um rendimento adicional a muita gente que esteja disposta a optimizar a utilização dos seus bens.
Este novo tipo de economia dá também às famílias ou empresas, oportunidades para economizar dinheiro em serviços incontornáveis, tais como as deslocações e estadias: A desintermediação que oferece plataformas on-line baixam automaticamente o preço dos bens oferecidos, bem como o desenvolvimento de tecnologias de pagamento através de telemóvel (e agora os relógios com a Apple) tem desinibido os compradores mais desconfiados. Finalmente, geolocalização e a Internet móvel aproximam os consumidores dos serviços disponíveis. A confiança é agora dada através dos sistemas de recomendação (tripadvisor, etc), de classificação e comentários que vão substituído gradualmente a classificação administrativa
Esta economia de partilha tem um visual inovador, amigável ou ambientalmente amigável. Numa altura em que estas start-ups que não têm 10 anos viram a sua cotação em bolsa a levantar voo: 40 biliões de dólares para Uber (mais do que a Delta Airlines), 13 biliões para a Airbnb -, os discursos críticos, no entanto, multiplicam-se . Estamos testemunhando um retorno ao conceito dos “commons", ou, pelo contrário, ao mercado no seu estado mais puro?. Muitos suportam a segunda hipótese: melhorando a taxa de utilização dos recursos, a economia de partilha, gera uma maior rendimento.
Esta economia também está longe de ser igualitária: é principalmente a classe média que beneficia deste desenvolvimento, ao contrário das camadas mais modestas, que têm menos activos para colocar no mercado. Além disso, essas práticas são muito facilmente industrializáveis: um site de partilha pode, com alguns investidores ricos e um punhado de bons engenheiros, transformar-se num peso pesado e capturar a maior parte da criação de valor. E isto para reinvestir ... normalmente em capital. Este é tipicamente um efeito “rebote”: uma poupança feita de um lado transforma-se num gasto do outro lado.»
Com a economia de partilha, é também o trabalho que muda com o ressurgimento inesperado da noção de "artesão" - o trabalhador que domina sua produção de A a Z. Se os mais optimistas veem nas plataformas colaborativas a ocasião de se re-apropriar da ferramenta de trabalho, outros a olham-na como uma fábrica de temporários sem salário fixo ou segurança social, e sem muitos direitos para se defender. Encontramo-nos com um sistema económico que está ali apenas para satisfazer os que compraram e os que os financiaram. Essa deriva começa a fazer estragos: nos Estados Unidos, a procura de recrutamento da Uber e de outras empresas de Veículos de Passageiros com Condutor (VPC) é tal, e a necessidade de trabalho tão cruel, que particulares não hesitam em pedir dinheiro emprestado - normalmente a preços elevados, porque muitas vezes têm um mau histórico de crédito - para comprar um sedan preto que lhes permitirá integrar a comunidade motoristas Uber.
A necessidade de chegar em primeiro lugar e ser o maior para ganhar o mercado (“winner takes all") conduz também a ir buscar dinheiro onde ele flui em abundância. Em França, grande parte das,10.000 empresas que repartem os negócios da "colaboração" são apoiadas por investidores muito tradicionais - os grandes bancos ou fundos de capital de risco. Mas os critérios para essas instituições em termos de retorno sobre o investimento não mudaram ao longo dos anos.
Se engordar é uma obrigação, capturar a máxima margem é outra. Não é por acaso que este tipo de plataforma oferece mais do que um serviço. A gente do marketing costuma dizer, que a margem mais elevada a retirar de um produto é, no momento do consumo - o estágio da "experiência" e, portanto, já longe da produção, transformação e serviço. Quando Airbnb refina sua aplicação para dar ao internauta a impressão de que ele está surfando um site de aluguer de luxo, onde será recebido com todas as garantias possíveis, gera uma experiência positiva. E recolhe os frutos financeiros.
Será necessária a introdução de legislação e regulação nesta economia, se quisermos evitar acabar numa "tragédia dos commons", posta em evidência em 1960 pelo norte-americano Garrett Hardin, que explica: Num campo aberto, cada criador deve pastar o melhor gado possível - mesmo empobrecendo o terreno para outros criadores, mas também para si mesmo.
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