O italiano Carlo M. Cippola (1922-2000) foi professor de história económica nas Universidades de Pisa (Itália) e Berkeley (EUA).
De vez em quando o seu nome aparece como Carlo Maria Cipolla, como sucede na introdução ao autor pela Livraria Bulhosa. Mas, de facto, o seu nome é Carlo Cipolla, e o M. apareceu, enquanto preenchia os formulários da Universidade de Berkeley, ao defrontar-se com um campo para o nome do meio.
Este não foi o primeiro acto “out-of-the box” associado à reputação de Carlo M. Cipolla. Outro, tem a ver com o seu mais famoso livro “Allegro ma non troppo”, que nasceu como uma brincadeira.
O seu estilo narrativo, num tom quase coloquial, permitiu-lhe traduzir temas mais densos de ordem técnica e da estatística para o grande público. No seu estilo surge também um humor subtil, patente em “Alegro ma non tropo”, que se tornou um long-seller da editora Il Mulino, o que constitui um caso excepcional entre historiadores.
Constantemente reimpresso, já vendeu para cima de 500 mil cópias em Itália e no mundo. Para além do Inglês, tem edições em 13 línguas entre as quais o Português .
Em 1973, Cipolla pede à sua editora de Bolonha, que está prestes a publicar a tradução da História Económica da Europa pré-Industrial, para imprimir um pequeno texto em Inglês que pretende oferecer aos amigos pelo Natal.
Trata-se de uma deliciosa paródia ao modo de fazer história económica da antiguidade e da Idade Média em 43 páginas. Desconheço o título que Cipolla lhe deu em Inglês. Em português o opúsculo designa-se por “Pimenta, Vinho, (E Lã) No Desenvolvimento Económico Medieval”. O autor estabelece uma relação entre o comércio das especiarias, em particular o da pimenta, à qual se atribui um efeito afrodisíaco, que constitui o verdadeiro motor do crescimento demográfico e do desenvolvimento económico na Idade Média. Mérito dos Portugueses!
Em Agosto de 1976, Cipolla pede da mesma forma à editora para imprimir um opúsculo em Inglês: “The Basic Laws of Human Stupidity”. Il Mulino faz uma centena de exemplares numerados e Cipolla oferece aos amigos.
Nos meios académicos, e não só, estes dois opúsculos tornam-se célebres, e a editora pressiona Cipolla para os traduzir para Italiano, que ele recusa. Finalmente em 1987, Cipolla acede em traduzir os dois textos e reuni-los em “Alegro ma nom tropo”, livro lançado em 1988.
Quais são então, segundo Cipolla, as leis fundamentais da estupidez humana:
- "Primeira Lei Fundamental da Estupidez Humana: Cada um de nós subestima sempre e inevitavelmente o número de estúpidos em circulação.
- Segunda Lei Fundamental: A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica dessa mesma pessoa.
- Terceira Lei Fundamental (a regra de ouro): Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo.
- Quarta Lei Fundamental: As pessoas não estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não estúpidos esquecem-se constantemente que em qualquer momento, lugar e situação, tratar e/ou associar-se com indivíduos estúpidos revela-se, infalivelmente, um erro que se paga muito caro.
- Quinta Lei Fundamental: A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe. O corolário da lei é: O estúpido é mais perigoso que um bandido."
Cipolla na seu parêntesis técnico faz um gráfico e dividi-o em quatro quadrantes. A cada quadrante corresponde um tipo de pessoa. C para alguém que age como crédulo: pratica uma acção e sofre uma perda, ao mesmo tempo que proporciona uma vantagem a outrem. I para uma pessoa que obtém uma vantagem, proporcionando ao mesmo tempo um ganho também a outrem. Age como inteligente e pertence ao quadrante I. Se fulano pratica uma acção da qual obtém uma vantagem causando um prejuízo a outrem, agiu como um bandido. Coloca-se no quadrante B. A estupidez corresponde ao quadrante E e a todas as posições no eixo do Y abaixo do ponto O.
O facto de ser possível colocar no gráfico os indivíduos em lugar das suas acções, permite algumas divagações sobre a distribuição de frequências dos bandidos e dos estúpidos.
“Bandido perfeito é aquele que, com as suas acções, causa aos outros perdas equivalentes aos seus ganhos. O tipo de banditismo mais primitivo é o furto. Uma pessoa que lhe rouba 500 euros, sem lhe causar mais danos, é um bandido perfeito: você perde 500 euros, ele ganha 500 euros. Todavia, os bandidos perfeitos são relativamente pouco numerosos.” Os bandidos que proporcionam a si mesmos ganhos maiores do que as perdas que causam aos outros, são segundo Cipolla, desonestos com um elevado grau de inteligência, e são pouco numerosos. “A maior parte dos bandidos, infelizmente, são indivíduos cujas as acções lhes proporcionam vantagens inferiores aos prejuízos causados a outros. Se alguém lhe causa danos no automóvel, no valor de cerca de 1 000 euros para lhe roubar um rádio no valor de 150 euros, trata-se de um bandido estúpido.”
Aplicando as Leis de Cipolla, e quando penso em Ricardo Salgado, ultrapassada alguma hesitação inicial, coloco-o no sub-quadrante do bandidos estúpidos, já que provocou um dano maior a outrem, do que o ganho que obteve, e no final deixou-se apanhar pela polícia.
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