sexta-feira, 3 de abril de 2015

Os Checos saíram à rua para saudar uma coluna militar americana...

Começa assim um mail do meu filho para mim: “Soubeste disto? Foram recebidos em festa pelos Checos. Auto-estradas cheia de simpatizantes para os receber e um grande concerto de apoio na Venceslav Namesti. Achei estranha a reacção. Fiz um comentário jocoso enquanto via as imagens. A Hana respondeu assertivamente: “If it wasn’t them we would be talking Russian." Realmente para nós portugueses, tão distantes, esta ameaça não faz parte do nosso cotidiano."

Uma coluna militar motorizada de cerca 500 soldados americanos estiveram a fazer um tour de 1.100 km na Europa, desde os Países Bálticos, até à sua base na Alemanha, passando pela Polónia e República Checa. Conhecida como Operação Dragon Ride. Tratava-se de uma demonstração de força desenhada para aliviar as preocupações sobre uma eventual agressão russa.


Apesar da existência de alguns grupos pró-russos, a onda de mensagens anti-americanas oriundas do Kremlin, não conseguiram ter eco na República Checa, e os Checos saíram à rua em massa para os receber.

A reacção do meu filho, foi a que muitos portugueses teriam na mesma situação. Está por lá há três anos, e não obstante um padrão de comportamento típico da sua geração, com o Erasmus, a Ryanair, e a crise de 2008, a traduzirem-se num modo de vida muito igual: Sharing, modo de vestir, pensamento de curto prazo, viver com menos dinheiro, há diferenças. Oriundo de Portugal não sente, como a maioria dos Portugueses os Russos como uma ameaça à sua soberania. 

A onda seria mais de “Americans go home”!

Mas na República Checa a coisa muda, e o apoio esmagador dos checos, até atrapalhou os líderes ocidentais, que consideravam os checos a moverem-se mais perto da órbita de Moscovo.

Vários protestos anti-NATO e anti-EUA chegaram a estar anunciados por organizações pró-russas antes da chegada do comboio militar americano.

As chamas foram atiçadas por sites da internet e por canais de televisão como a RT, que afirmavam que os checos eram fortemente contra as tropas estrangeiras que entravam no seu país, comparando o comboio militar a uma ocupação estrangeira.

Segundo o New York Times, alguns diplomatas ocidentais temem que Praga esteja fora da sintonia com União Europeia não se opondo à entrada de tropas russas na Ucrânia. O governo de coligação da esquerda Checo, foi contido nas suas críticas a Moscovo.

O presidente Milos Zeman gerou críticas ao chamar ao conflito na Ucrânia uma guerra civil, minimizando qualquer envolvimento russo, e tem na sua agenda a participação numa parada militar em Moscovo no próximo mês de Maio.

O embaixador americano em Praga, Andrew Schapiro disse na televisão Checa na passada segunda-feira: “Acho que, sendo provavelmente o único chefe de estado da UE a estar presente naquele desfile militar, num momento em que os Russos estão a desestabilizar a nação europeia, não é realmente uma boa mensagem para enviar.

Enquanto o seu governo age desta forma, o povo checo tornou-se activo ao expressar apoio à NATO. 

Os checos saíram à rua aos milhares no domingo passado, empunhando bandeiras americanas, oferecendo às tropas cerveja checa e bolos.


Os jornais da República Checa, ficaram agitados e surpreendidos com a reacção da população, e no domingo publicaram fotos dos checos sorrindo para a câmera confraternizando com as mulheres e homens das tropas americanas, em contraste com fotografias antigas da época da violenta invasão da Checoslováquia pelo Pacto de Varsóvia em 1968.

O Ministro da Defesa checo Martin Stropnicky disse que a propaganda anti-ocidental feita pela Rússia, saiu-lhe pela culatra, levando até a um maior apoio da NATO pelo povo Checo.

Na terça-feira, alguns soldados norte-americanos foram visitar a cidade de Pilsen ou Plzen para prestar homenagem aos seus camaradas de armas que morreram na segunda guerra mundial, para libertar a parte ocidental da Checoslováquia em 1945. 

Também na terça-feira houve um concerto com uma série de lendas da música Checa na base militar de Praga onde se encontravam hospedadas as tropas norte-americanas.

Houve franjas da população que se manifestaram contra a presença das tropas da NATO, e foram vistos cartazes com a frase “Checos contra a Nato”. Nenhuma desta atitude foi patente na Estónia, Letónia, Lituânia ou Polónia - países que se consideram muito mais diretamente em risco de uma futura agressão russa. 

Também esta não foi a opinião dominante na República Checa. Com efeito, um grupo de pilotos de Harley-Davidson acompanhou  o comboio americano na fronteira Checa para escoltá-lo através do país.

As tropas norte-americanas regressaram quarta-feira à sua base. 

Por cá não se ouviu falar do que se passou na Polónia e na República Checa, e uma pesquisa nos jornais europeus de referência também não foi dada relevância ao que se passou a leste da UE.

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